Sinais da crise
Engana-se quem pensar que registrou-se ali o abandono do dogmatismo do mercado. Na verdade, esse foi mais um sinal da crise que ronda os apologistas da domínio nu e cru do capital. A solução implantada desde o final dos anos 1970 por Reagan, Thatcher e Pinochet, e levada adiante por seus seguidores nos anos seguintes – Collor e Fernando Henrique Cardoso entre eles –, agravou as mazelas do capitalismo por todos os lados, e os sinais da crise se multiplicam: a volta das greves e da luta dos trabalhadores na Europa; explosões operárias na Coréia do Sul; crise financeira nos “tigres asiáticos” (a Tailândia é apenas o caso mais grave); manifestações de massa na América Latina, como a luta contra a pobreza e o desemprego na Argentina; derrotas eleitorais dos conservadores na Grã-Bretanha, França, México; guerra civil na Albânia, para expulsar o governo neoliberal; guerra civil na África, com a derrota da antiga e sanguinária ditadura de Mobutu Sese Seko…
Dois protagonistas da cúpula do capitalismo mundial apontaram as mazelas que podem ameaçar a sobrevivência do sistema dominante. A argúcia do mega-especulador George Soros alertou para os “excessos do liberalismo”. “O arqui-inimigo de uma sociedade aberta”, escreveu ele no começo do ano, “não é mais a ameaça comunista, mas a capitalista”. Ele foi complementado por Philip Jennings, um sindicalista anticomunista, no Fórum Econômico Mundial, na Suíça: “Vocês diriam que o capitalismo é um sucesso em um mundo em que 3 bilhões de pessoas, de um total de 5,7 bilhões, vivem com menos de 2 dólares por dia?”
São sinais da crise – sinais de que a roda da história pode começar a mudar, e que a maré conservadora pode estar começando a esvaziar.
Mas ela não vai esvaziar sozinha. Como na França e no México, a unidade das forças progressistas é essencial para a derrota dos conservadores. Na Argentina, os vários setores da oposição ao neoliberalismo dão lições de sabedoria política na construção de uma frente capaz de derrotar Carlos Menem – o próprio ex-presidente Raul Alfonsin abriu-mão de sua candidatura a deputado federal para facilitar a união popular.
A resistência às ofensivas do grande capital contra os povos ocorridas neste século (o nazifascismo foi a maior delas) exigiu a formação de amplas frentes democráticas e populares. Guardadas as proporções, a situação atual é semelhante. E é preciso que a oposição tenha consciência disso, é necessário criar uma ampla frente contra o neoliberalismo.
Conselho Editorial
EDIÇÃO 46, AGO/SET/OUT, 1997, PÁGINAS 3