A publicação deste artigo do físico José Leite Lopes é também uma oportunidade para a revista Princípios prestar sua homenagem ao cientista e cidadão brasileiro pela ocasião de seu octogésimo aniversário. Leite Lopes destacou-se igualmente na consolidação da Física brasileira e na luta pela afirmação da pesquisa científica e tecnológica como parte integrante da soberania nacional. Pernambucano de Recife, nascido em 28 de outubro de 1918, ele graduou-se em Física na antiga Universidade do Brasil e doutorou-se na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, em 1946, com o Prêmio Nobel Wolfgang Pauli.

Na ciência propriamente dita Leite Lopes deu, entre as décadas de 1950 e 1970, contribuições reconhecidas internacionalmente na área de Física Nuclear e Teoria de Campos e Partículas. Dedicou-se também à criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) no Rio de Janeiro e à consolidação do CNPq como agência federal de fomento à pesquisa científica. Uma amostra de sua atividade política em defesa da ciência e da soberania nacional está recolhida no livro Ciência e desenvolvimento, de 1964, e Ciência e libertação, de 1969. Esta atividade custou-lhe no ano de 1969, a demissão e cassação pela junta militar que governava o país, período no qual exilou-se na França tornado-se professor da Universidade de Estrasburgo, de onde participou de atividades em defesa dos exilados políticos brasileiros.

Já aposentado ele tem sido uma voz dissonante no coro do pensamento único que apregoa, como o ministro Malan, que em tempos de “globalização” não precisamos gastar com recursos na produção independente de ciência porque podemos comprar tecnologia no exterior. Todos os pronunciamentos recentes de Leite Lopes, inclusive o seminário que a USP dedicou-lhe no ano passado têm sido momentos de denúncia do caráter criminoso das políticas neoliberais do governo FHC para a educação, ciência e tecnologia. Maiores informações sobre a vida e a obra de Leite Lopes podem ser encontradas no site da Internet: www. prossiga.br/leitelopes/

Comissão Editorial de Princípios Quero agradecer aos organizadores deste congresso por terem se lembrado do meu nome para falar. Caí numa armadilha, estou mergulhado entre matemáticos e historiadores da matemática, mas isso me dá prazer. Sou um físico que sempre teve admiração pelos matemáticos; como dizia Pitágoras, “tudo no mundo são números e todo o céu é harmonia de números”.

Bertrand Russel dizia que a coisa mais misteriosa na história é o aparecimento dos filósofos gregos. Com eles, durante dois mil anos, imperou a física aristotélica que descrevia as coisas como as vemos: os corpos só entram em movimento por força e violência e, depois, vão ao repouso e ocupam essa posição privilegiada. Esse pensamento se manteve por dois mil anos! A igreja tomou o modelo de Aristóteles e o transformou em dogma, e quem se desviasse desse dogma podia ser queimado vivo. Muita gente morreu na fogueira, vocês sabem disso – Portugal sabe bem disso –, com a Santa Inquisição.

Galileu Galilei, construindo um telescópio inventado por holandeses, descobriu coisas no céu que não estavam contidas nos dogmas da Igreja – havia planetas, satélites em torno dos planetas e então se pode ver que nem tudo girava em torno do centro que era a Terra. Por isso ameaçaram queimá-lo. Mas creio que ele foi mais ameaçado de ser queimado vivo por seus colegas aristotélicos “dedos duros” do que pelos padres da Igreja.

Nos séculos XV e XVI, tivemos as descobertas dos navegadores e a Escola de Sagres viveu momentos históricos importantes. Como os pesquisadores nessa época tinham a necessidade de se comunicar entre si, criaram as Academias, que surgiram nos anos 1600 e Galileu era membro da Academia dei Lincei. Mas, depois da condenação de Galileu, essas academias hesitavam em se reunir porque estavam com medo de interpretar por conta própria e tornar-se alvo da Igreja. Só houve melhora quando foi citada a Royal Society, no mesmo ano em que subiu ao trono Charles II, na Inglaterra. Na França, sob o governo de Luís XIV, foi formalmente fundada em 1666 a Académie Royale des Sciences. Não sei se em Portugal uma Academia de Ciências foi criada nessa época – mas a verdade é que os historiadores dizem que houve problemas em Portugal e Espanha atribuídos à intervenção da Igreja na educação.

Somos seres históricos, vivemos no passado, vamos para o futuro e fazemos história porque, dentre outras questões, é importante saber onde erramos. No Brasil, nos anos de 1700, os portugueses vieram e iniciaram sua colonização. Houve problemas com a Corte. A título de exemplo, instalaram uma oficina gráfica para impressão e isso foi proibido, levaram para Portugal os materiais da oficina e passamos os anos de 1700 sem poder imprimir nada no Brasil. Uma Carta Real proibia até a fabricação de palitos de fósforo na Colônia. A indústria têxtil da Inglaterra começava a surgir e graças aos mercados da América do Sul ela teve grande expansão.

Diria que o Brasil só aparece em 1808 e nosso “libertador” se chamava Napoleão Bonaparte! Porque graças à invasão francesa, o rei D. João VI navegou para o Brasil com sua Corte. Abriram-se, após sua chegada, Jardins Botânicos, as Academias, as Faculdades de Medicina, e o Brasil começou a ter rumos de uma nação. Nossa existência “adulta” não tem nem duzentos anos.
A pesquisa científica no Brasil só começou bem mais tarde, já no fim do século passado. Foi com a peste e a epidemia de febre amarela em 1888. Acabara de ser abolida a escravatura. Muito tarde, o Brasil sempre foi tardio!

Sobre a transferência de conhecimento

Em Mecânica, integra-se uma equação diferencial e se obtém uma família infinita de trajetórias, sendo que uma trajetória dada é fixada por condições iniciais. As condições iniciais são fundamentais. Querer transformar a trajetória histórica do Brasil na trajetória dos Estados Unidos, por exemplo, é uma estupidez porque os Estados Unidos fizeram uma história e a história do Brasil é outra. Qual é o industrial brasileiro que luta, como lutaram os grandes industriais norte-americanos, para viabilizar financiamento às universidades? Há cem anos atrás, nos Estados Unidos, Abraham Flexner decidiu verificar a situação do ensino em seu país. Constatou que havia um ensino miserável! Flexner escreveu o livro The american college e isso foi quase uma “revolução”. Houve uma corrida dos industriais ricos para ajudar as universidades norte-americanas. Quais são os industriais ricos brasileiros que correm para ajudar nossas universidades? As condições iniciais brasileira e norte-americana foram e continuam sendo diferentes. Nossa situação é essa: sem o financiamento do Estado não podemos progredir.

Mas, voltando à questão da febre amarela no Brasil, com a libertação dos escravos havia a necessidade da mão-de-obra; e houve nessa época uma crise na Europa. Assim, os italianos vieram para cá trabalhar. Mas não se podia desembarcar em Santos nem no Rio de Janeiro devido à febre amarela. Então o presidente Rodrigues Alves dirigiu-se ao Instituto Pasteur de Paris e eles lhe disseram: “Vocês têm no Brasil um homem que trabalhou aqui e pode resolver esse problema”. Esse homem era Oswaldo Cruz, que fundou o Instituto de Manguinhos e conseguiu acabar com a febre amarela, mesmo com inúmeras dificuldades. Houve quase que pequenas guerras, pois não era fácil entrar nas casas para matar os mosquitos. O Instituto tornou-se um centro de pesquisas e de formação de cientistas. Surgiram nomes como Carlos Chagas, que descobriu a doença de Chagas em todas as suas fases; um homem digno do Prêmio Nobel.

Assim foi o início da pesquisa científica no Brasil nos primórdios deste século – são apenas cem anos!

É importante ressaltar que o fundamental não é a transferência de tecnologia, mas sim a transferência do saber

Hoje, no Brasil, ouvimos muitos economistas e políticos “espertos” pregando que devemos conseguir transferência de tecnologia. Dizem que uma fábrica de um país desenvolvido vem para cá e transfere tecnologia. Mas não é verdade. Não é montando coisas já conhecidas, inventadas lá fora, que farão nossos operários adquirir tecnologia. Isso porque no processo de transferência de conhecimento o que interessa mesmo são os cientistas que vêm para nosso país – assim a transferência de conhecimentos se torna irreversível.

Nos anos 1930 se deu o grande período da transferência de conhecimento da Europa para os Estados Unidos. Um exemplo disso foi a construção do Instituto de Estudos Avançados de Princeton em 1933. Devido ao nazifascismo, a nata dos grandes homens da Europa, principalmente da Hungria, Alemanha e França se deslocaram para os Estados Unidos. De Einstein a Thomas Mann… Isso ajudou muito a fazer dos Estados Unidos um país poderoso em Ciência, sobretudo após a Segunda Guerra. Com essa transferência de conhecimentos para as universidades americanas, com dinheiro dos industriais e com as unidades da Federação criando suas instituições, a Universidade estabilizou-se naquele país.

O Brasil aproveitou parte dessa transferência de conhecimentos da Europa em 1934, quando começou realmente a Universidade no Brasil – há pouco mais de sessenta anos! Em 1934 fundou-se a Universidade de São Paulo e em 1935 a Universidade do Rio de Janeiro, com Anísio Teixeira.
Vivíamos sob a política do café com leite – o presidente da República era paulista ou mineiro –, mas isso acabou com a revolução de 1930. Intelectuais paulistas como Júlio de Mesquita Filho, Paulo Duarte atribuem essa mudança de predomínio político à chegada de Getúlio Vargas ao poder.
Em São Paulo foi criada a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de um lado, e, do outro, as escolas de engenharia e medicina, além de outras. Apesar das divergências foram sábios em escolher Teodoro Ramos, um professor de matemática da Escola Politécnica de São Paulo, para ir à Europa buscar cientistas e professores de grande valor para essa nova universidade que se instalava. Ele consultou Fermi em Roma e trouxe Luigi Fantappié, o homem dos funcionais analíticos; trouxe o geômetra Giacomo Albanese e Gleb Wataghin, o pai da nossa física – nós devemos a Wataghin a física moderna e a pesquisa física no Brasil. Veio uma missão francesa da mais alta importância: Fernand Braudel, Claude Lévi-Strauss, Roger Bastide, toda a filosofia e ciências sociais da França moderna estava representada. Muitos jovens vieram para São Paulo e, depois, outros para a Faculdade Nacional de Filosofia no Rio de Janeiro. Esse pessoal começou a formar equipes novas de pesquisadores. A Universidade de São Paulo é, hoje, conseqüência dessa transferência de conhecimento, do qual nós ficamos com uma fatia pequena e os Estados Unidos com a grande parte.

É muito importante ressaltar que o fundamental não é a transferência de tecnologia. O que interessa é a transferência do saber, e para isso precisamos trazer as pessoas que sabem para transmitir aos nosso jovens.

Os cientistas, por sua vez, não podem ficar limitados a seus congressos anuais em que falam uns aos outros. Estamos com um programa na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) para que os pesquisadores brasileiros – matemáticos, físicos, químicos, biólogos por mais eminentes que sejam – dediquem, entre suas horas de trabalho, algum tempo para dar palestras nos liceus de ensino de segundo grau para que os meninos e meninas saibam o que é e como é bonita a Ciência moderna.

O ensino da matemática, por exemplo, tem sido reformado e há equipes muito boas trabalhando nas universidades. Sei de Maria Laura no Rio de Janeiro e do grupo da USP. Mas ainda é pouco. É preciso que a sociedade se torne consciente disso e que os pesquisadores saibam que têm – além de seu trabalho e descobertas em matemática ou física – de se dedicar a dizer às gerações atuais as coisas novas que temos. Porque se vê a toda hora na TV o anúncio de descobertas científicas e tecnológicas: buraco negro, quark, tops, raios laser, compact-disc e outras coisas…É preciso então que os pesquisadores comentem sobre essa beleza da Ciência para um público mais amplo. Há, entretanto, aqueles cientistas que fazem descobertas, que fazem Ciência, e que não têm possibilidade de se comunicar facilmente – Einstein, por exemplo – eles também têm o direito de existir.

A matemática no Brasil

A matemática não teve uma febre amarela a debelar e então demorou muito para crescer no Brasil. Em 1916 criou-se a Sociedade Brasileira de Ciência. Havia uma corrente, o positivismo, que era contra a Universidade moderna e contra a pesquisa científica. Uma das coisas a ser feita, então, era lutar contra o positivismo. Nesse contexto surgiu Otto de Alencar, matemático da Politécnica do Rio de Janeiro, depois veio Manuel de Amoroso Costa, grande matemático brasileiro que escreveu um livro chamado As idéias fundamentais da matemática, que merece ser lido. Ele fez conferências no Sorbonne sobre geometrias não-arquimedianas e, em 1922, apenas sete anos depois de Einstein ter descoberto as equações do campo gravitacional, Amoroso Costa escreveu um livro sobre relatividade geral. Para um homem que não tinha contato direto com o que estava sendo feito em outras partes do mundo, não há dúvidas de que ele foi um grande matemático. Infelizmente morreu quando Santos Dumont voltou ao Brasil: um avião decolou levando eminentes figuras para saudá-lo voando em torno do navio – e esse avião caiu…

O CNPq foi o primeiro organismo nacional constituído para estimular a ciência e fazer uma política científica no país

Amoroso Costa lutou na Academia Brasileira de Ciências (que adotou esse nome em 1922), na Associação Brasileira de Educação pelo Desenvolvimento do Ensino da Matemática e pela reformulação do ensino universitário no país. Depois dele veio um homem chamado Lélio Gama que foi um grande matemático, filósofo e também astrônomo. A seguir veio Luis Freire que influiu no crescimento de talentos científicos no Brasil, dentre eles Mário Schenberg, que foi professor da Universidade de São Paulo – um homem que deu contribuições muito importantes à Física, brasileira e mundial.

Esses matemáticos foram se desenvolvendo quase que por força da convicção de que era necessária a Ciência no Brasil. Somente após a II Guerra, em 1947-48, o físico brasileiro César Lattes, trabalhando na Universidade de Bristol, contribuiu para a descoberta de uma partícula nova, o méson p. Em torno de César Lattes formou-se um grupo, do qual eu fazia parte, que criou o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) no Rio de Janeiro. Achávamos que, paralelamente à Universidade de São Paulo, era necessário desenvolver a Ciência em outras partes do Brasil.

Em São Paulo, Luigi Fantappié, que era um matemático italiano muito importante, formou uma equipe que contava com Omar Cantunda, Cândido Lima da Silva Dias e outros.

Dois anos após a fundação do CBPF veio a criação do Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq – que foi o organismo nacional concebido para estimular a ciência em nossas terras, isto é, fazer uma política científica no país. Foi o primeiro organismo desse tipo no Brasil. Para exemplificar como era antes do CNPq, saí do país com bolsa dos Estados Unidos, Schenberg também saiu com bolsa de governo estrangeiro… Só havia, na época, uma bolsa nacional que era a do Salão Nacional de Pintura, que mandava um pintor para a Europa. A partir de 1951, com o CNPq, a oferta de bolsas passou a ser, diria, constante. O Brasil é hoje, dentre os países da América Latina, o que dá maior número de bolsas para estudantes trabalharem no exterior…mesmo que o curso possa ser feito aqui. Hoje temos muitas pessoas fazendo doutorado aqui, mas viajar ao estrangeiro é importante. Há coisas que não se pode deixar de fazer. Amaldiçoado seja o governo que quiser cortar ou reduzir o número de bolsas de estudos, que não quiser buscar soluções para a universalização da educação do povo no Brasil (1).
Mas continuemos falando da história dos matemáticos brasileiros.

Conheci Leopoldo Nachbin, um grande matemático, talvez o primeiro matemático brasileiro que recebeu influências italianas de Gabriele Mammana, Acchile Bassi, além de Antônio Aniceto Monteiro e depois Marshall Stone e André Weil; Leopoldo Nachbin foi para os Estados Unidos e tornou-se um famoso matemático. Faleceu recentemente. Foi talvez o primeiro matemático profissional da nova geração.

A verdade é que trabalhamos um bocado.

Schenberg, Marcelo Souza Santos, Catunda, Maurício Matos Peixoto… Por eles foi fundado, no Rio de Janeiro, o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), que se tornou uma grande instituição e atualmente forma muita gente boa, a exemplo da equipe que trabalha em sistemas dinâmicos – que é quase física…

Outro nome que merece atenção é o de Joaquim Gomes de Souza, que veio do Maranhão para o Rio de Janeiro e decidiu fazer o exame para a Politécnica de uma só vez. Parece que D. Pedro II foi assistir ao exame e depois o apoiou e o mandou para a Europa. Joaquim Gomes de Souza publicou um livro chamado Melanges de Calcul Integral. Aos historiadores da matemática compete ainda analisar melhor o que ele apresentou.

Depois de Gomes de Souza vieram outros: Otto de Alencar, Amoroso Costa, Lélio Gama, Luís Freire… e agora esta turma que está atualmente produzindo e criando; contribuindo para fazer a história da matemática no Brasil.

Eis em poucas palavras um pouco do desenvolvimento da Ciência no Brasil. Esse debate sobre a história da matemática luso-brasileira se torna importante para conhecermos melhor o que fomos capazes de fazer e o que não pudemos fazer, quais os problemas que se antepuseram e os obstáculos ainda a remover.

As universidades devem ser melhoradas? Acho que sim! Seria importante que cada universidade fizesse a cada ano cursos de reciclagem para os professores do ensino básico, pois eles vão ensinar àqueles que serão os cientistas amanhã. É preciso que esta preocupação se torne institucional.
As crianças e adolescentes brasileiros foram abandonadas há séculos – um crime cometido pela sociedade – precisamos resgatá-los! É claro que além do estudo tem de haver possibilidade de comer, de cuidar da saúde… Em nossa história, carregamos nos ombros uma carga pesada. Tivemos, em nosso passado, crimes de lesa-pátria cometidos por nossa sociedade anterior: desprezou-se a educação de base do povo. A educação é importante para sabermos em que mundo estamos, sabermos como transformar esse mundo; sem isso, o ignorante vive na miséria – não saber distinguir água poluída da água boa. O atraso educacional do povo brasileiro é um crime de lesa-pátria.

Eu não compreendo que um presidente da República, sociólogo e professor de universidade não saiba que não se pode pagar somente 100 reais por mês a um professor de ensino básico. Como pode uma professora, no interior do Piauí ou de São Paulo, viver com 100 reais por mês? Mal pode se alimentar, quanto mais se reciclar…Não é possível que a equipe econômica do governo considere que o país entrará em bancarrota se for aumentado o salário desses professores, e dos médicos de saúde pública, para valores que o tornassem salários dignos de um cidadão.

Isso é importante: os historiadores da matemática, os matemáticos e os homens das ciências devem se preocupar com os problemas gerais do país e podem contribuir para a melhoria da educação, chamando a atenção para que se pague com justeza ao professor. Qual será a família que deixará suas crianças seguir a carreira de professor se elas mal poderão se alimentar?

Nota

(1) Quando Leite Lopes proferiu a palestra que originou o texto, em março de 1997, nem imaginava o que se daria no segundo semestre de 1998 com o governo Fernando Henrique Cardoso cortando violentamente os recursos para bolsas no Brasil e no exterior.

EDIÇÃO 53, MAI/JUN/JUL, 1999, PÁGINAS 73, 74, 75, 76, 77