As controvérsias são mais inerentes à atividade científica do que usualmente se pensa, e nem sempre os resultados das experiências têm decidido, de modo inequívoco, tais controvérsias; e mesmo seu papel no empreendimento científico ainda é pouco compreendido.

Este livro é dedicado à análise de uma singular coexistência entre uma controvérsia profunda e prolongada e um desenvolvimento próprio de uma ciência 'normal'. Ela envolve uma das duas teorias que revolucionaram a física do século XX e que está ainda inconclusa. Somos, portanto, seus contemporâneos. O livro examina a natureza do debate quântico nos anos 1950 e 1960, marcado de maneira preponderante pelos trabalhos de David Bohm e, na segunda metade dos anos 60, pelos de 1.S. Bell, bem como a mudança na ênfase do determinismo versus indeterminismo para a problema da localidade versus não-localidade. Ele analisa em especial a evolução do pensamento do físico de origem norte-americana David Bohm, no qual se encontra, de maneira significativa os termos da mudança ocorrida. O livro mostra o interesse genuíno e o impacto intelectual da primeira teoria de Bohm, de 1952, tanto nos aspectos ligados à física teórica, em especial da sua consistência e equivalência empírica com a teoria quântica usual, quanto nos aspectos epistemológicos, nos quais estão presentes questões ideológicas e políticas do período, em uma interligação complexa. Ele relaciona a análise interna (questões científico-conceituais) com a análise externa (história das idéias e história social).

Uma de suas conclusões, relativa à recepção da teoria e da interpretação de David Bohm de 1952, aponta a maior influência dos fatores internos do que dos externos, contribuindo para esclarecer aspectos da relação entre ciência e ideologia. E igualmente analisada a fase ulterior do pensamento de Bohm, marcada pela idéia de 'totalidade', onde se mostra que esta idéia não se identifica com a de mesma denominação invocada por Niels Bohr em debate com Albert Einstein. O tema relaciona-se também com a história das ciências no Brasil, dada a importância, nos acontecimentos analisados, da estada de David Bohm na Universidade de São Paulo entre 1951 e 1955. O livro evidencia o enraizamento do trabalho de Bohm nas interações com físicos brasileiros, a exemplo de J. Tiomno e M. Schonberg, e estrangeiros que aqui estiveram, a exemplo de R.P. Feynman, L. Rosenfeld, J-P' Vigier e M. Bunge.

Olival Freire Jr. é professor do Instituto de Física da UFBa onde coordena a implantação de um programa de pesquisa~ em história, epistemologia e ensino de ciências sob os auspícios da UFBa e da UEFS. Mestre em Ensino de Física e Doutor em História, pela USP, realizou pós-doutoramento em história e epistemologia da ciência na Equipe REHSEIS, Université Paris VII. Seus interesses de pesquisa estão voltados para a história e epistemologia da física moderna, em especial da teoria quântica, área na qual tem publicado diversos trabalhos em revistas especializadas nacionais e estrangeiras, e para o uso da história e da epistemologia no ensino da física, tendo publicado "O universo dos quanta" (FTD), texto de divulgação científica.

O livro pode ser obtido diretamente junto ao CLE (Fone: 019 – 7887374, Fax: 019 – 2893269, e-mail [email protected]) ou a Livraria da Física (Fone/fax: 0118158688, e-mail: [email protected]) pelo valor de 20 reais.