Um convite para ler Marx
Márcio Naves responde ao enorme desafio de apresentar a imensa obra teórica de Marx não só para os já iniciados no marxismo como para o grande público. Obra essa que abrange, pelo menos, disciplinas como a história, a economia política, a teoria política, a ideologia e a filosofia. Analisando todos os principais textos de Marx, tendo como fio condutor a concepção materialista da história, o autor, em menos de cem páginas, oferece uma ótima oportunidade para os que desejam iniciar um estudo sistemático sobre a teoria do pensador revolucionário alemão, em linguagem simples mas sem prejuízo de sua complexa construção conceitual.
Um dos grandes méritos do livro é destacar a importância que tem a análise sobre as relações de produção para a teoria de Marx; não só para a constituição do materialismo histórico, como para a compreensão de sua teoria do Estado e da transição socialista, e também para o estudo sobre a reprodução ou a transformação do conjunto das relações sociais. Recuperando assim a concepção de Marx, segundo a qual é nas relações de produção que se encontra “o segredo mais profundo, o fundamento oculto do edifício social”.
Márcio Naves, a partir da leitura de Marx, mostra por que a transição para o comunismo pressupõe a transformação das relações capitalistas de produção. Essa transformação se inicia com a estatização das fábricas e da terra, mas não se esgota nela, como indicou Lênin. Para retirar o produtor direto da condição de mero apêndice da máquina é indispensável a completa revolucionarização do processo de trabalho e de produção, com a eliminação da divisão capitalista do trabalho, entre o trabalho intelectual e o trabalho manual, o trabalho de direção e o trabalho de execução. A estatização é a transferência da titularidade jurídica dos meios de produção, que de propriedade privada passam a propriedade estatal, sem implicar a sua socialização. A luta pela completa supressão das relações de produção capitalistas representa um desafio vital para o socialismo, já que a ditadura do proletariado se instaura sem a existência de relações de produção socialistas, e sobretudo porque o novo Estado só pode se consolidar e se desenvolver com a sua emergência. E esta apenas pode ocorrer com a transformação das forças produtivas herdadas pelo capitalismo, a ser realizada pelos trabalhadores.
Márcio Naves apresenta a obra de Marx indissociavelmente ligada à luta da classe operária pelo comunismo. Por isso é uma obra ao mesmo tempo científica e revolucionária, conforme o título do livro. E, para o autor, a sua atualidade se revela também pelo fato de ela própria oferecer os conceitos necessários para o estudo das sociedades pós-revolucionárias surgidas no século XX e de seus problemas.
Luciano Cavini Martorano
EDIÇÃO 61, Mai/Jun/Jul, 2001, PÁGINAS 80