Qual utopia?
“(…) A sociedade política e econômica encontra-se muitas vezes como se fosse órfã de utopia. A utopia como ainda sonho de gerações mais idosas que contemplam na retrospectiva existencial possibilidades que ainda possam ser restauradas na linha da consciência histórica, bem como, alentar na juventude visões que transcendam a mediocridade das propostas que os sistemas sociais, mormente a educação, apresentam aos jovens. Aqui é mais do que fundamental e necessária uma utopia em si, e como utopia crítica da vida e da condição humana do presente, e que nos lancemos em direção aos maiores desafios. Isto concebido, numa perspectiva realmente válida como um projeto calcado na realidade, na viabilidade social e não algo muito romântico e ilusório, com um caráter extremamente alienador, deve-se conceber projetos altamente democráticos que visam as possibilidades da identidade do indivíduo como sujeito e como protagonista de sua história dentro da identidade cultural. Compreende-se, aqui, a necessidade da dimensão histórica da utopia que possibilite delinear projetos viáveis para que o ser humano possa encontrar plenamente a felicidade e a prudência em sua vida social. Devem ser propostas alternativas de políticas que promovam além da justiça social em sua parte de concretude do materialismo histórico, também a recuperação da dignidade da vida e do próprio imaginário social de cada cidadão. (…)”
Antonio Sidekun
Bremen/Alemanha

Alugar o Brasil
“(…) Para quê essa urgência em dilapidar o patrimônio nacional? Ah! há que se capitalizar a economia nacional, dirão alguns. Precisamos de tecnologia de ponta, a TV digital vem aí!, dirão outros. Essa é a sanha e a senha da estúpida globalização: o homem a serviço do capital. Será que é mesmo necessário vendermos nossas empresas? O empresariado nacional não tem condições ou competência de desenvolver suas empresas e produtos? Não devemos nos preocupar em preservar nosso mercado da sanha globalitária? Faz-se necessário que reflitamos sobre essas questões. Ou, como diria o velho e bom Raul Seixas, ídolo autêntico daquela geração que deu seu sangue e suor por um Brasil melhor nos idos de 70: ‘A solução pro nosso povo eu vou dar / Negócio bom assim ninguém nunca viu/ tá tudo pronto é só vim pegar/ a solução é alugar o Brasil! Nós não vamos pagar nada. Dá lugar pros gringo entrar/ esse imóvel tá pra alugar. A Amazônia é o jardim do quintal e o dólar deles paga o nosso mingau. Uau!’. Negócio bom assim ninguém nunca viu…”
Lula Miranda
São Paulo/SP

EDIÇÃO 64, FEV/MAR/ABR, 2002, PÁGINAS 82