Caminhando pelo centro de São Paulo, encontrei uma mulher com um carrinho de supermercado vazio, em cima do carrinho, uma tábua se prestava a prancheta. A mulher desenhava um Samurai e falava da sua preferência pelo desenho do movimento, quando o Samurai atirou-se pra fora do papel, sentou no meio-fio e começou a chorar. A desenhista misturou-se à multidão e desapareceu. As lágrimas indômitas Samurai ameaçavam crescer e inundar toda a cidade.
Autoridades advertiam para o risco de todo povo chorar. Um deputado pedia um aumento do aparato policial com o objetivo de coibir o choro.

      Aos poucos foi chegando uma multidão dava aspecto de uma enorme Babilônia – prostitutas e travestis vendiam-se com desconto, moleques de rua pediam esmolas, camelôs vendiam bugigangas, catadores de papel arrastavam suas carroças, traficantes faziam negócio, desempregados procuravam algum bico e uns outros abençoavam miseráveis e prometiam o céu.

      A fim de conter as lágrimas, jogadores de futebol prometiam a Copa do Mundo. Tudo parecia muito inverossímil, ainda assim, emissoras de televisão pretendiam fazer um programa de realidade.

      Achando que tudo fosse um sonho ou efeito do sol, parei junto a uma banca de jornal, e olhei algumas notícias: “projeto de flexibilização dos direitos trabalhistas com o apoio da Força Sindical pode acabar até com o direito da mulher gestante“ ; “o aumento da violência está diretamente ligado ao crescimento dos bolsões de pobreza da capital. “

      Ao chegar em casa, pensei muito se contaria esta história. Um observador possível poderia dizer que há um pouco de exagero, seja porque Samurais desenhados não pulam fora de papel, personagens apresentados como integrantes de uma babilônia paulistana não existem, ou porque uma central sindical jamais tomaria posição contra os interesses dos trabalhadores.

      Tudo bem, ainda assim, a história está contada, mesmo que ninguém acredite nas lágrimas de um Samurai.