Em seu discurso ao Congresso norte-americano no final de janeiro o presidente George W. Bush derrubou o que restava da máscara da globalização, rosnou para o mundo com o maior orçamento militar dos EUA após a guerra fria e ameaçou vários países, arrolados como futuros alvos de ataques do império.

O discurso de Bush foi pronunciado no mesmo momento em que se abria, em Nova York, o Fórum Econômico com o objetivo de, em meio a diagnósticos díspares sobre os desdobramentos da crise norte-americana, buscar mecanismos para manter a acumulação capitalista – sem conseguir esconder os malefícios que a globalização neoliberal provoca, e que leva muitos luminares do capitalismo a reconhecer que é urgente combater a pobreza.

Os ricos, em Nova York, defrontam-se com esses fantasmas. Em Porto Alegre, cerca de 60 mil pessoas de 131 países se reuniram para discutir e protestar contra a guerra imperialista, a Alca, os efeitos nefastos do capitalismo liberal sobre os povos e propor um novo caminho de paz e progresso para o mundo. Partidos, entidades, movimentos, uma vasta variedade de formas de luta e personalidades se encontraram no 2º Fórum Social Mundial. Em meio a diferenças, uma certeza: a humanidade necessita dar um basta ao modelo concentrador e excludente em curso no planeta.

Em Porto Alegre, há quem pense que a busca desse caminho alternativo passe longe da política, sem entender que não há – nem pode haver – incompatibilidade entre a atuação dos partidos políticos de esquerda e a atuação das organizações populares. “Não entender isso é não corresponder às aspirações comuns do povo”, disse Renato Rabelo, presidente do PCdoB, no encontro lá promovido pelo Fórum de São Paulo, que congrega partidos progressistas. O neoliberalismo provoca o estrago social, a crescente desigualdade, a desnacionalização. São problemas que o povo enfrenta em todos os países, e a sua luta deve ser unida, para ser mais eficaz, devendo buscar plataformas comuns de enfrentamento, em que os partidos e o movimento popular respeitem as formas próprias de organização de cada setor.

Num contexto de feroz batalha contra a brutal ofensiva capitalista-imperialista, a existência de um partido revolucionário organizado e atuante no cenário político é imprescindível. Em nosso país o Partido Comunista do Brasil, fundado em 1922, completa seus 80 anos de existência, com a marca da luta pelo progresso e visceralmente associado às conquistas progressistas de nosso povo, em especial dos trabalhadores – hoje, ameaçadas. O Partido se encontra num período de expansão e florescimento e tem um papel fundamental para a construção da saída almejada pelo povo brasileiro. O 10º Congresso do PCdoB aprofundou a luta por um governo de reconstrução nacional, constituído por amplas forças democráticas e populares, produto de um movimento de oposição ao neoliberalismo. Esta proposta de governo se insere precisamente na perspectiva antiimperialista, democrática e popular, cuja perspectiva é a transição ao socialismo.

Em face do quadro de crise econômica sistêmica, do fracasso do modelo de globalização neoliberal e da agudização sem paralelo da contradição entre barbárie e civilização, a possibilidade de alcançar um novo rumo sob o capitalismo é cada vez menor – verdade que pouco a pouco os povos e os trabalhadores vão tomando consciência. A experiência revolucionária do século XX, com sua trajetória de êxitos e reveses, deixou lições para a retomada em patamar mais elevado da luta pelo socialismo. À globalização capitalista de feição imperial e colonial contrapõe-se a construção de um mundo distinto, solidário, de paz e desenvolvimento econômico e social.

Um outro mundo, socialista, é possível!

Comissão Editorial

EDIÇÃO 64, FEV/MAR/ABR, 2002, PÁGINAS 3