Ninguém sabe como foi, porque ninguém lá estava. A não ser os mais antigos; os que construíram isso tudo que herdamos.

      Era mato, era chuva. Era gente pobre escondida para não ser achada e viver em paz.Mas a paz é impossível. Num chão assim desigual, num mundo assim sem justiça? – não, a paz não pode ser mesmo possível.

      Aí veio a guerra. Desembarcaram soldados com cara de brasileiros em solo paraense. Iam caçar comunistas. Acharam que ia ser um passeio. Não foi.

      A guerrilha começou no dia 12 do ano sem graça de 1972. Envolveu os destacamentos do exército em escaramuças. Armou arapucas. Venceu pela sabedoria do mais frágil. Venceu com coragem e malandragem.

      Os soldados voltaram. Foram mais uma vez vencidos. Acharam que, aumentando o número de botinas, poderiam esmagar a Guerrilha. Engano infantil. Não contavam com o gigante Osvaldão, com as convicções de Helenira, Maria Lúcia, Dina. Não contavam que lá, no meio da mata, havia um Maurício e seu André. Não contavam que havia um velho guerreiro em cujo nome de batismo constava um imenso rio. Não imaginavam que a pequena Elza, especialista em segurança, organizava a casa, a luta e aquele amanhã tantas vezes acreditado.

      E mais uma vez retornaram. Desta vez vieram com inteligência. E desta vez, venceram… Venceram? É, a Guerrilha, como movimento armado, foi militarmente derrotada. Mas foi vencida?

      Hoje é memória do povo da região. Hoje é cantada como epopéia de toda uma gente.

      A boa semente não fenece. 

      Vence.

      Sempre.