O sol não sabe se fica ou se vai embora. Nesta indefinição, não sabemos que fazer: se vestir manga comprida, ou manga curta; se calçar sandália, ou sapato; se sair de guarda-chuva ou sem. Por outro lado, não consigo me decidir: se te amo muito, ou se te amo demais; se a saudade é de você, ou de nós; se a espero ou vou aí buscá-la.
É ruim esperar só. Dá insônia, o apartamento faz eco, a cama fica aquele imenso deserto. E tudo ganha uma só cor. Ao menos fosse a sua… Mas não: é tudo planturosamente branco, opaco, fosco, com cara de Sorbonne, Globo e Empire States.

      Fiz as contas: a continuar essa estabilidade, estou frito. Corto nos sonhos, corto na carne e a carne, adormeço sem luas. Aquela casa própria, quem sabe num outro governo. A faculdade, só trancando mais um semestre. O horizonte, talvez mais adiante uns quilômetros.

      O que me resta é a esperança de todo dia te ver, mesmo trocando assim de pessoa, e poder visitar a flor que se abisma, as coxas que me condenam, a boca que a boca cativa. Restam-me também algumas certezas: seu riso iluminando o meio-dia; nossas bandeiras eriçadas nas avenidas; nosso canto em dia de chuva renitente; e o calor, fruto da fricção de quem estrelas visita.

      Quem sabe semana que vem, você chegando, as coisas melhorem; fiquem mais vivas por aqui? Quem sabe esses girassóis desabotoem e tudo fique mais nítido? Enquanto tudo isso não acontece, fico aqui, cheio de burocracia, telefonemas, desencontros. Fico aqui escrevendo nas ruas seu nome e, sob o inverno, nossa felicidade sem conta.