O fragmento em epígrafe foi extraído da fala de uma professora da rede Pública Municipal, uma nordestina vinda do Rio Grande do Norte. Em sua família, todos eram analfabetos e ela foi a única que conseguiu obter instrução. A poesia que salta da frase é um testemunho de que a história de qualquer pessoa, qualquer um de nós, pode converter-se em literatura. Todas as histórias – as que ainda serão contadas, estão por aí, enquanto a gente toma um café ou atravessa a rua. Histórias que estão na singularidade das pessoas e no que em todos existe de comum, todas, penduradas sob o fio da realidade que se nos apresenta como que suspenso sobre nossas cabeças.

      O imaginário artístico extrai pedaços desse fio, com os quais promove exageros, deformações, cortes, rupturas, fragmentações, composições, aproveitando-se do seu significado "em bruto" e dando vida a outro significado, mas tudo vem daí, desse fio, da realidade. Ainda que não consigamos enxergar, por estarmos desatentos e/ou atarefados, todo esse material, esses elementos literários estão a nossa volta cotidianamente. Quando nos escapam ou são subaproveitados, seja na sua beleza ou nos seus ensinamentos, perdemos a oportunidade de aperfeiçoar nosso instrumental de observação da vida.