Uma fatalidade
Lamentei o episódio. Mas nada pôde ser feito. Absolutamente nada.
Sei. Sei que ela corria pelo asfalto sem nenhuma atenção, sei. Sei que deveria ter tomado todos os cuidados. Mas não foi possível. Não foi.
Quando vi, lá estava ela, diante de mim, inenarrável, extensa, plúrima. Tentei o desvio, juro que tentei. Mas sabe como sou para essas manobras bruscas: um desastre. Se vou aqui nesta faixa, é nesta faixa que devo ficar. Qualquer mudança de rota requer a mobilização de muitos esforços, a conjuração de muitos músculos e sentidos. E eu, definitivamente, sou avesso a inflexões.
Não, não se trata de falta de hábito. É inépcia mesmo.
Ela está ótima. Eu é que estou aqui em frangalhos. Naada! Inteira, leve, longilínea, com toda a luz e o céu pintados nas faces. A boca ria. Só deu um tropicão quando torceu-lhe o tornozelo o salto. Afora isso, uma pequena careta e mais nada.
Eu é que fiquei aqui, no prejuízo, no meio da pista, suspenso neste céu, cativo de um sorriso.