“Brasília, julho de 2002.

      Ao Ilmo. Sr.

      Síndico do Edifício Pindorama

      Somos moradores deste apartamento há pouco mais de oito anos. Neste tempo, convivemos com um incômodo noturno: alguém, não podemos afirmar de qual unidade deste edifício, passa as noites e madrugadas com o televisor ligado a toda a altura. 

      O som do aparelho invade todos os ambientes de nosso apartamento. Impede-nos a leitura tranqüila, a concentração para o estudo, o prazer de ouvir música, a conversa à mesa do jantar e, sobretudo, atrapalha-nos o sono.

      Não foram uma ou duas noites em que fomos acordados no meio da madrugada pelo barulho do referido televisor; foram inúmeras. Em todas as vezes, acionamos o procurador – digo, o porteiro – que, sempre alegando ser difícil determinar de qual apartamento vinha o barulho, se dispunha, a nosso pedido, a interfonar para as unidades vizinhas indagando sobre algum aparelho esquecido ligado. Ninguém sabia; ninguém nada ouvia.

      Por algumas noites, resolvemos investigar por conta própria. Descemos e subimos escadas; colamos os ouvidos às paredes e ao chão. A primeira suspeita caiu sobre nossa vizinha do 45, que fica logo ao lado. Reclamamos. Mas ela jura que não é ela.

      Resolvemos, então, radicalizar: abrimos um furo na parede e vimos: vimos a referida vizinha diante do televisor, ajoelhada, catatônica, de boca aberta. Gritamos, chamamos, e nada. Descemos até sua porta, batemos, esmurramos e nada. 

      Senhor Síndico, são 1h36min do dia 15 de novembro. O televisor continua a zoar em nossos ouvidos e nos impossibilitando dormir, sonhar, votar, viver, protestar. Sabemos que o senhor deve ter muitas coisas mais importantes com que se ocupar e, lhe garantimos, por sabermos disso é que até agora não havíamos recorrido a uma atitude como essa. Mas, infelizmente, não há outra alternativa. Como o senhor vive viajando e não responde a nossos recados e telefonemas, somos obrigados a esse ultimato: se dentro de 24 horas todos os televisores do prédio não forem destruídos, afogaremos a moradora do 45 na banheira, cortaremos a energia do edifício, dissolveremos a assembléia do condomínio e decretaremos sua deposição do cargo.

      Trabalhamos diariamente, estudamos todas as noites, temos filhos. Merecemos descanso, lazer e paz em nossa casa. Gostaríamos de uma providência. Não queremos ficar calvos e com olheiras para o resto de nossas vidas.

      Sendo o que resta, subscrevemo-nos.

      Manifestamente 

      Nós”