Por estes dias encontrei um Santo. Não parecia Santo André nem São Bernardo nem São Caetano nem São Paulo e nem Santo Expedito que eu conheço bem dos santinhos distribuídos pela cidade, e como eu não o tivesse identificado com santo algum, decidi então chamá-lo de São Mané, em homenagem a um amigo meu.

      São Mané disse que considerava a mim e a outras pessoas como uma espécie de homem de Neanderthal, como alguém vivendo fora do tempo, e então, a fim de corrigir-me, enunciou dois bons conselhos, uma espécie de modelo de comportamento para tornar-me moderninho, aí vai:

1) Considerar todos os fenômenos sociais (que conduzem à degradação humana), como sendo uma coisa natural e inevitável, e assim entendido, quando falar deles, não demonstrar qualquer sentimento de indignação. Em último caso, mesmo considerando-os naturais e inevitáveis, se tiver que responder sobre qual seria a solução para os tais problemas, diga que eles podem ser resolvidos na esfera da individualidade, da ação voluntária, e ainda, se tiver oportunidade diga que você mesmo faz parte de uma ONG que distribui sopa aos pobres, não precisa especificar, ninguém vai conferir, pois são muitas as ONGs e muitos os pobres, e pra finalizar, faça um discurso confuso sobre ética e cidadania que não explique nem uma coisa nem outra, e bom pra impressionar.

2) Cuidado para não utilizar palavras ou frases que são expressamente proibitivas, que denotam passadismo, tais como: Capitalismo, Imperialismo, Burguesia, Luta de Classes, etc. E mesmo que achar seu interlocutor um Néscio anunciando o tratado da estupidez, procure alguma forma de associar o seu discurso ao dele, é bom para evitar conflitos.

      Pronto, tudo muito simples.