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    Comunicação

    A partição das porcelanas

    Amanheceu claro o dia de nossa tormenta. Não corria pelo céu nenhum prenúncio, qualquer sinal ou presságio. O tempo transcorreu tempo comum, ordinário, feito de pequenas rotinas e algum trabalho. Fomos ao shopping, ao mercado; corremos avenidas em busca de outros bairros e nosso passado; almoçamos o feijão de todos os dias, sem salada, sem […]

    POR: Elder Vieira

    2 min de leitura

    Amanheceu claro o dia de nossa tormenta.
    Não corria pelo céu nenhum prenúncio,
    qualquer sinal ou presságio.
    O tempo transcorreu tempo comum,
    ordinário,
    feito de pequenas rotinas e algum trabalho.
    Fomos ao shopping, ao mercado;
    corremos avenidas em busca de outros bairros
    e nosso passado;
    almoçamos o feijão de todos os dias,
    sem salada, sem angústias – como um estágio,
    uma estação, um promontório onde aguardássemos o inevitável 
                                                                                                 [e necessário.

    Depois nos separamos. Colhemos de outras bocas o fel de nossas desavenças. Amassamos nosso cotidiano em mesas de bar, diante de amigos, e não nos reconhecemos. Alimentamos nossas diferenças até o ápice da divergência. Acusamos o mundo e as faltas de cada um. Quebramos a louça, fizemos a partilha dos livros, negociamos os discos, os móveis.

    Na gordura da cozinha, ainda repousam,
    acumuladas,
    as setenta infidelidades de nossa memória.