Da segunda metade da década de 1930 a maio de 2002, o dirigente comunista esteve presente em grandes momentos da história de nosso país e acompanhou os acontecimentos mundiais

1940 [na prisão] Preso em Belém com outros dirigentes comunistas, João Amazonas conseguiu fugir (junto com Pedro Pomar) para participar das mobilizações contra o nazi-fascismo (1941/1942) e da reorganização do Partido na Conferência da Mantiqueira (1943).

1946 [na bancada comunista na Constituinte de 1946; na primeira fila, terceiro da esquerda para a direita] Os comunistas elegeram 15 deputados federais e um senador (João foi o deputado constituinte mais votado pelo Distrito Federal, Rio de Janeiro, com 18.379 votos). Na Constituinte, segundo João, “reuníamos um pessoal muito capacitado e demos enorme contribuição ao enfrentamento de inúmeros problemas. Éramos novatos. Muitas tarefas para poucas pessoas, mas o ambiente que existia permitia muitos avanços. Trabalhávamos vinte horas por dia. Fazíamos parte de uma luta que contagiava o Brasil inteiro. Havia alegria e um bom ambiente. Não percebíamos o quanto trabalhávamos, porque aprendíamos muito também.” 1962 [no ato de comemoração do 40º aniversário do Partido] Junto com Maurício Grabois, Pedro Pomar, Lincoln Oest, Carlos Danielli, Ângelo Arroyo, Elza Monnerat, entre outros dirigentes e militantes comunistas, João Amazonas desempenhou importante papel na reorganização do Partido – após intensa luta contra o revisionismo contemporâneo e contra o abandono dos princípios por setores do PC do Brasil (então PCB), o partido revolucionário da classe operária teve seu nome, sua bandeira e seus princípios marxistas-leninistas reafirmados na Conferência Extraordinária de 18 de fevereiro de 1962 (realizada em São Paulo).

1967 [com Mao Tsetung, na China] Em suas quase sete décadas de militância ininterrupta, João Amazonas valorizou intensamente o internacionalismo proletário, participou de encontros com importantes dirigentes do movimento comunista internacional, e tornou-se referência para os revolucionários de todo o mundo. 1978 [na VII Conferência do Partido, realizada no exílio] Após participar da resistência ao regime militar nas selvas do Araguaia, foi forçado ao exílio na Europa. Mesmo assim manteve-se à frente do Partido e da luta pelo fim da ditadura militar. Dirigiu a VII Conferência, que constatou o agravamento da situação política brasileira – indicando que a ditadura militar estava chegando ao fim e que o comportamento do Partido deveria ser mais ofensivo, em função das alterações políticas e das lutas operárias e populares que então se reabriam.

1979 [a chegada do exílio em novembro de 1979] A anistia foi uma grande conquista do povo brasileiro e fez parte das grandes lutas que forçaram a redemocratização do país. No dia 24 de novembro de 1979 desembarcou no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, vindo do exílio. A anistia foi “uma conquista, e não uma dádiva”, afirmou. No dia seguinte foi recebido por cerca de mil pessoas no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, inclusive por Diógenes Arruda Câmara, que morreu de enfarto ao dirigirem-se para o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, onde estava prevista uma concentração organizada pelo PCdoB, ainda clandestino.

1981 [na coletiva de lançamento da edição número 1 da revista Princípios, em Belo Horizonte (MG)] Além de dirigente político, João Amazonas destacou-se pelo estudo e defesa da teoria revolucionária. Fez esforços para criar e consolidar a revista Princípios – uma revista teórica, política e de informação, que já atingiu 66 edições. O veículo passou a estimular a elaboração e a divulgação de importantes contribuições ao pensamento marxista, progressista e patriótico no país. 1984 [na campanha das Diretas Já] A firmeza nos princípios e a necessária amplitude na tática foram a marca de João Amazonas na condução da vida partidária. Foi figura de frente do movimento que tomou as ruas do Brasil exigindo eleições diretas para presidente; e teve papel destacado no final do regime militar de 1964, contribuindo para a decisão tomada por Tancredo Neves de aceitar ser o candidato único da oposição contra o continuísmo ditatorial. “Fomos ao colégio eleitoral para acabar com ele e com a ditadura”.

1989 [na campanha da Frente Brasil Popular, com Lula presidente] João Amazonas teve papel decisivo para a construção da unidade entre os partidos da esquerda brasileira na memorável campanha que mobilizou as massas e assustou as elites, que se uniram para impedir a vitória de Lula, e colocar Collor na Presidência. João teve ainda atuação determinante nas posteriores campanhas presidenciais de Luís Inácio Lula da Silva e participou da luta pela unidade de amplas forças para pôr fim ao caminho neoliberal nas eleições deste ano. 1992 [no VIII Congresso do PCdoB, realizado em Brasília] No início da década de 90 João Amazonas assumiu posição de vanguarda após a crise que se abateu sobre o marxismo-leninismo e o movimento revolucionário, especialmente com a queda da URSS e do Leste europeu. A burguesia chegou a proclamar o fim da própria história. João Amazonas e o Partido Comunista do Brasil aceitaram o desafio. Nesse momento adverso, ele tomou a iniciativa de destacar a dimensão da crise do marxismo e do socialismo, prognosticando o avanço das políticas neoliberais do capitalismo. Antes disso, já diagnosticava o caráter contra-revolucionário da Perestroika de Gorbachev, tese desenvolvida em seu trabalho “Perestroika: a Contra-Revolução Revisionista”, de maio de 1988. Dizia que a teoria revolucionária marxista não tinha sido superada, mas requereria desenvolvimento em função dos novos fenômenos em curso, criando a base para formulação de novas soluções para os diferentes desafios da contemporaneidade. O VIII Congresso o Partido reafirmou o marxismo-leninismo, apontando erros e insuficiências a serem superados para o enfrentamento da crise teórica e política em curso. Em 1995 o PCdoB aprovou o Programa Socialista para o Brasil.

1997 [na luta contra o neoliberalismo e pela unidade do povo] João Amazonas continuou firme no esforço pela unidade do povo brasileiro, defendendo a formação de uma ampla frente contra o neoliberalismo. Amazonas elevou o pensamento tático do Partido a um nível superior através de sua rica exposição em vários escritos e informes partidários, desenvolvendo o conceito de “tática de princípios, ampla e flexível” e da justa compreensão da relação entre ampliação e radicalização no processo da luta política.

2000 [condecorado com a Medalha da Inconfidência, em Ouro Preto (MG)] João recebeu o reconhecimento público por sua dedicação à luta em defesa do Brasil, da democracia, dos direitos dos trabalhadores e pelo socialismo. Recebeu inúmeras condecorações e títulos de instituições, entidades e personalidades progressistas, no Brasil e no exterior. Nos últimos meses antes de seu desaparecimento seguia uma rotina de viajar por todo o país recebendo títulos de cidadão em várias cidades brasileiras.

EDIÇÃO 66, AGO/SET/OUT, 2002, PÁGINAS 44, 45, 46, 47, 48