Manietaram tudo: informações, pessoas, casos. Grampearam ligações, ocultaram o passado e inventaram histórias.

      A safadeza é tanta, que aparaceram na tv acusando aos outros, com caras inocentes e limpas. Calvas luzidias, bocas em bico, gestos de pais de família.

      Ninguém sabe de onde saiu tanto dinheiro. Parece que andaram aí vendendo umas coisas alheias e públicas e embolsaram algo das micharias em dólares. Com uma parte, compraram a imprensa – puta cara. Com outra, adquiriram alguns gramas de silêncio precioso. O resto, guardaram em caixas vedadas aos olhos da Receita.

      Também nomearam magistrados. Um deles é amigo íntimo do executivo de plantão. Já até preparam um pacote de imunidade para salvar a pele de quem vendeu a nação e exauriu seus recursos. Assim, ele poderá, quem sabe, ser presidente da ONU.

      Com toda essa munição, partiram pra baixaria. Despejaram nos lares todo seu asco pelos deserdados da Terra. Bombarderam de oligarcas a garotinhos, passando por bad boys irascíveis, é verdade. Mas o que querem mesmo é comer o fígado daquele que ousou pousar muitos galhos acima deles. Mas não dão conta. O peso da iniqüidades cometidas já não permite mais que voem como dantes. E, depois, suas penas já sabem a corvo.

      Dizem que na próxima estação estarão extintos. Duvido muito. Ainda hão de exalar seus miasmas por muitos anos, infelizmente.

      Seria muito bom que pudéssemos adiantar nosso ensaio de primavera. Mesmo já e agora, muitas outras aves há doidas para cantar.