No intervalo da ópera, uma mulher com olhar de romance medieval, acompanhada de todos os nove filhos que não tivemos, vinha em minha direção. Eu, órfão de palavras, passei um momento eterno dividido entre o clássico e o popular, até que falou em mim a voz do eu mesmo, por meio de um fragmento de cordel – O diado é o diabo, mas a mulher é a mulher.

      Aconselhado pela providência de que não se deve fugir nem de um, nem de outro, firmei o pé, mas as pernas bambearam, talvez em resposta ao fluxo sanguíneo, talvez por exagero de verossimilhança. Confesso que desejei recuar, pois nada a detinha e ela se aproximava, fazendo passos com as lembranças de tudo que não vivi.

      Cada passo meu era um misto de ir e voltar, ela, caminhava segura, arrastando uma casa com florinha na janela. Por um instante, eu parecia abandonado a um encantamento que quase me paralisava, então, uma voz distante que mora na lembrança, gritou – Infelizes daqueles que não estão prontos pra viver o inesperado!