No ônibus, um rapaz que passou debaixo da roleta recebeu o comentário de um passageiro: "Não trabalha porque não qué!". O rapaz nem deu bola. O ônibus seguia seu trajeto, lento, sacolejando num dia de sol, mas a frase se repetia no meu pensamento: Não trabalha porque não qué! Não trabalha porque não qué! Não trabalha porque não qué! Repetiu tanto, que acabou confundida com uma cantiga de criança: O Sapo não lava o pé… O Sapo não lava o pé… O Sapo não lava o pé…

      Por referência ao sapo, lembrei do poema "Os Sapos" do Bandeira: "…urra o sapo-boi…". Meu pensamento logo enlaçou o boi da composição, então, feito um boi que puxa a boiada, pensei em gado, em gente, numa música do Vandré. Depois em outras músicas do mesmo tempo no Brasil. Depois no Brasil do tempo das músicas e, num instante, em que pensei estar perdido, pensei no trajeto do ônibus, e no trajeto do Brasil. O ônibus sacolejava e, eu bem sei, vai sacolejar muito mais, mas é um lindo dia de sol.