Forças políticas de esquerda que representam o movimento popular, patriótico e democrático, em aliança com setores de classes dominantes, assumem o governo do mais importante país da América Latina. Pela primeira vez, e com votação consagradora, um líder operário exercerá a Presidência do Brasil. O fato ainda ganha mais relevância porque se dá sob uma situação mundial marcada pelo belicismo e pela supremacia de forças reacionárias. Desse modo, são grande as esperanças do povo brasileiro, são enormes as expectativas das correntes progressivas de todo o mundo em relação ao governo que toma posse em janeiro.

Proporcionalmente a essa esperança, destaca-se a responsabilidade do presidente eleito, dos partidos e do movimento social que o apóiam. A mudança, compromisso maior assumido por Lula com os brasileiros, significa reconstruir o país, o Estado nacional sobre a égide da soberania nacional, da democracia e do resgate dos direitos sociais. Essa reconstrução exige a retomada do crescimento da economia, tendo como base um modelo de desenvolvimento sustentado. E a riqueza dele proveniente deve ser canalizada à melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores e do povo e ao soerguimento da infra-estrutura social.

Todavia, a mudança não é um fenômeno instantâneo. Fernando Henrique entrega ao presidente eleito um país à beira da insolvência e seu legado perverso exigirá um período de transição. Uma fase intermediária entre os resultados destrutivos do modelo neoliberal irá se transcorrer sob o conflito entre o continuísmo – que nada mais é que o velho modelo que foi derrotado, mas que lutará para manter-se – e a mudança, que representa o novo que venceu, mas ainda carece de consolidação.
Os obstáculos não serão poucos. O que hoje se passa na Venezuela e na Argentina, embora com suas especificidades, são exemplos da complexidade do movimento de ruptura com o neoliberalismo e os ditames do FMI. Internamente, sob a liderança do PSDB, os banqueiros e demais beneficiários do “antigo regime” tudo irão fazer para levar o governo Lula ao fracasso. Para isso irão usar a cooptação, a desestabilização e as ameaças. O imperialismo norte-americano, sob a chefia do arqui –reacionário W.George Bush, como de resto aconteceu ao longo da maior parte da história da Américas, não irá aceitar de modo fácil uma pátria plenamente soberana no continente.

Contudo o Brasil agora é exuberante de riqueza e a vitória de Lula em grande medida uniu uma nação que estava dividida. O novo governo tomara posse co uma forte legitimidade – respaldado por uma razoável base parlamentar, um combativo movimento social, importantes camada do empresariado e por expressivos segmentos da cultura e da intelectualidade. Tem, portanto, força e legitimidade para realizar o diálogo e construir com senso, e para a mobilização com o intuito de venceras resistências conservadoras. A maioria política que esta sendo edificada para sustentar o próprio governo tem como tarefa imediata consolidá-lo. A experiência histórica dos povos indica que tão que tão ou mais difícil do que vencer é consolidar a vitória. E isso vai exigir um feixe de ações, tarefas e iniciativas de todos que tem compromisso com o seu sucesso.

Entre essa tarefa destaca-se a luta de idéias O triunfo eleitoral deu-se sob intensa batalha de concepções e caminhos e o governo será exercido sob forte bombardeio ideológico. A ruptura com o modelo neoliberal – num país da importância do Brasil -, é um projeto complexo. Tanto as ações políticas quanto as governamentais irão requer um suporte teórico. Nesse contexto, a elaboração teórica que dê respostas a esses desafios é uma das condições do êxito.Eles serão traçados – na ótica da revista – sob a luz da teoria marxista, como fruto do debate teórico e da ação política concreta.Eles emergiram também como resultado da polêmica com as concepções errôneas e do combate às formulações do campo dos adversários. As páginas de Princípios serão placo desse labor, dessa frente de luta.

Comissão Editorial

EDIÇÃO 67, NOV/DEZ/JAN, 2002-2003, PÁGINAS 3