Minha juventude amou pessoas e países,
mas não soube compreender-te.
Quase nada dizia de tua beleza
e alardeava teus defeitos.
Agora, nos reencontramos.
Nada de aurora vermelha,
apenas uma tímida manhã.
Já não tens amigos fortes
e eu, se ainda não sou um velho,
também não sou mais um niño.
Estás enfraquecida e eu também
e uma ardente paixão nos ameaça.
Ah! louca ilha,
dorso exposto
de animal marinho,
os arpões rasgam tua carne
e o Caribe lateja
com os teus gritos
de dor e socorro,
freme com tua oceânica bravura!
Falta leite, arroz, carne,
gasolina,
falta quase tudo e resistes.
… enquanto dormimos, comemos,
trabalhamos, resistes…

O pretenso senhor de todos,
que polui de sangue todos os mares,
sentenciou cruel condenação:
o oceano que te unia ao mundo
agora te isola dele.
Mas resistes.
Apostam lotes de ações, dúzias de uísques,
que não duras mais que uma semana;
apostam caixas de champanhe
que voltarás ser um fausto cassino,
um lascivo prostíbulo.
Mas resistes.

Ah! teimosa ilha, louca ilha,
que insistes em cultivar
o ideal de homens livres.
Tua resistência é óleo cru
que alimenta o sonho.
É um soco na pança do rei.

Quem está sitiada no meio do oceano?
Somente uma ilha?
O animal que açoita a água salgada
com a cauda,
que sangra,
mas sabe
que não pode se render,
é o direito dos Povos
à liberdade,
é o direito de ter
somente a solidariedade
como senhora e senhor!

(agosto/93)

Verbos do Amor & Outros Versos – Adalberto Monteiro
Goiânia – 1997

 Adalberto Monteiro, Jornalista e poeta. É da direção nacional do PCdoB. Presidente da Fundação Maurício Grabois. Editor da Revista Princípios. Publicou três livros de poemas: Os Sonhos e os Séculos(1991); Os Verbos do Amor &outros versos(1997) e As delícias do amargo & uma homenagem(2007).