Em cada clareira, em cada vereda,
em fila indiana,
a morte arrasta-se em Ruanda.
A cada dia,
a fome,
a cólera
abatem 1.000 pessoas
e não há coveiros o bastante,
então os rios de Ruanda
estão obstruídos
não por lama,
mas por carne humana.

A vida agoniza
nos telejornais.
E não há
comoção alguma,
pois que na tela
tudo é ficção,
diversão.
Se a vida em Ruanda
tivesse pele branca
quem sabe cativasse
um abaixo-assinado,
um protesto, uma campanha.

São 50.000 mortos em uma semana.
Rima pobre, rima feia
para desgraça tão tamanha.

Verbos do Amor & Outros Versos – Adalberto Monteiro
Goiânia – 1997

 Adalberto Monteiro, Jornalista e poeta. É da direção nacional do PCdoB. Presidente da Fundação Maurício Grabois. Editor da Revista Princípios. Publicou três livros de poemas: Os Sonhos e os Séculos(1991); Os Verbos do Amor &outros versos(1997) e As delícias do amargo & uma homenagem(2007).