A mosca
– Morrer aqui
e não findar
sob as luzes incompletas da cidade,
feito coisa amorfa
no suscitado turbilhão das coisas?
Que fim levaram minhas asas
de libélula?
Para que serviu tanto zumbido
aos ouvidos dos homens
se agora me esvai o grito
nesse queimar de coisas?
Eis que,
sobre a fruteira no domingo sonolento,
a mosca escarra seu último suspiro
depois de um baque frontal
contra o inseticida.
A mosca, consumida,
inacabada sob as horas,
face às múltiplas imagens de seus olhos,
escuta o gemido da tarde
e o esvoaçar das companheiras
indiferentes ao seu extermínio,
a seu aniquilamento.
E sufoca
na esperança
de ainda poder zunir
sobre um lixo melhor
pela manhã…