Poderia te escrever mil poemas,
cidade,
falando de tuas lâmpadas
e de teus gases que poluem teu céu.
Poderia dizer de teus bares
ou de tuas favelas contrastando
as cores de teu corpo
e alma.
Mas falarei de outros motivos, cidade.
Falarei destes meninos quase homens
e destes homens todos meninos
que, com seus risos recheados de lutas,
te fazem mais nossa
e menos triste.

Esses meninos que dançam
em tuas praças,
sob bandeiras,
transformando em liberdade
tua fome;
em dança,
teu movimento de pernas e olhos sem futuro;
em qualquer coisa que te faça menos ruim,
a ruindade de teus delitos.
É desses meninos que quero falar,
cidade!
Esses meninos que,
em volta da mesa,
fazem, do fútil, alegria
e, da alegria, asas
pr'uma viagem pra fora dos muros
e pra dentro do mundo!