Ele nunca tinha dirigido, morria de medo do volante, tinha muita vontade mas nunca tinha aprendido. Um dia perdeu o medo e entrou numa auto-escola. Primeiro dia de aula, entrou no carro e o instrutor passou as orientações: "Primeiro você posiciona o banco, coloca o sinto, posiciona os retrovisores, liga o carro, dá seta, baixa o freio de mão e sai. Entendeu?!

      – Não!

      – Veja, não é difícil… E repetiu o instrutor com toda calma do mundo.

      – Ah, tá! Agora sim.

      – Então vamos.

      Um carro o ultrapassou. Vai tirar o pai da forca seu pé de chumbo? Vai pegar a mãe na zona? Gritava descontrolado, o motorista. Sai da frente, ôh, tartaruga! Vê se anda, seu camelo! E acenava para todos saírem de sua frente. Anda seu mala! Meu carro é um ponto zero, mas o motorista é dois ponto dois. Repetia a todo o momento. O instrutor ao seu lado estava petrificado, boquiaberto, não conseguia raciocinar, nenhuma palavra lhe saía. O motorista, do seu lado, continuava com suas loucuras de maníaco do volante. Passa, passa, gesticulava com os braços para fora do carro. Outro carro que passava o xingou, ele só faltou descer para tirar satisfações com o condutor. Macho que é macho não chupa mel, masca abelha. Dizia o motorista como se fosse dono do mundo.

      Frenético, ele passava rapidamente de marcha, enfiava o pé no acelerador, depois no freio, depois no acelerador, dava seta para a esquerda, depois para a direita, virava o volante, muitas vezes sem dar seta nenhuma. Já se achando o dono da situação, ligou o som do carro como se fosse o proprietário. A cabeça projetada para frente, os olhos vermelhos e vidrados, os pulsos firmes e rígidos seguravam o volante. Estava a ponto de espumar pela boca.

      Brigava com os outros e comentava com o instrutor. Que bananas estes motoristas, tá louco! Onde você tirou a carta seu maluco?! Me fala onde você comprou esta carta, seu ignorante! Por correio é fácil, heim, ô estúpido! Carta roubada não vale, seu mané! E assim foi, daí pra pior. Xingava deus e o diabo, não tinha quem o ultrapassasse e não recebesse um impropério.

      Depois de muito tempo, já cansado de tantas ofensas, virou para o instrutor e perguntou: "E aí, como me saì? Fui bem?"

      Ao que o instrutor lhe disse, meio assustado: "Tá… tá… fo… foi. Mas agora, liga o carro e vamos começar a aula por favor?"