Não podemos deixar
o cipoal, a lama dos igarapés
a fuligem das fábricas
o ranger das máquinas
turvar nossa visão.

Sim, é uma exigência
vencer os pântanos
e se o facão
permanece limpo na bainha
é denúncia de indolência e traição.

O que se vê é que
a malha farpada do cotidiano
golpeou os teus olhos;
tua farda, é verdade,
está suja de sangue do inimigo.
Mas, do alto do penhasco,
o que se observa
é um guerrilheiro cego, atônito.

Embora trabalhes e lutes,
A tolice te invadiu e, qual uma virose,
Se alastra e te consome.
Tua audição rejeita a palavra ciência
E teus olhos
Olham com desprezo os livros.

Contra-argumentas,
arrogante,
arrotas vitórias isoladas,
greves, escaramuças e feitos de bravura.
Isto por si, de pouco vale.
Perante a história
os troféus que ostentas são de lata!
Breve deles só restará a ferrugem.

A arma para aniquilar
o cipoal das dificuldades
não é o "praticismo exasperado",
a revolução não é feita
por meia dúzia de bem-aventurados.

Aprende!
Partido Comunista
é sinônimo de Ciência.
Assimilado isto,
saiba que a revolução
é a fusão da ciência
com as massas e as armas.

Sem a ciência
a militância se assemelha
a um navio — sem bússola —
vagando em círculos
no meio do oceano.

Os Sonhos e os Séculos – Adalberto Monteiro
Círculo Azul Livros – Goiânia – 1991.

Adalberto Monteiro, Jornalista e poeta. É da direção nacional do PCdoB. Presidente da Fundação Maurício Grabois. Editor da Revista Princípios. Publicou três livros de poemas: Os Sonhos e os Séculos(1991); Os Verbos do Amor &outros versos(1997) e As delícias do amargo & uma homenagem(2007).