Conta-se que muitos anos atrás, comecei o meu primeiro emprego numa pequena confecção de calcinhas e meias. O dono era um Árabe brasileiro de nome Anuar. Na convivência com ele e sua família, entrei em contato pela primeira vez com a língua Árabe. Numa época de muitas primeiras vezes, certo dia a professora de geografia mostrou-nos um punhado de areia que dizia ter trazido "das Arabias", e pôs-se a falar do mundo Árabe, do espaço geográfico à geografia humana. Ninguém ousaria questionar a origem daquela areia, pois que, a medida em que a professora falava de geografia, envolvia a todos, entremeando com a história de um beduíno que nasceu embaixo de um camelo e tinha o poder de prever o futuro.

      A língua de Anuar e a aulas de geografia, mais tarde somaram-se a literatura de Malba tahan e, mais à frente, ao contato com a causa Palestina, por intermédio de uma gente que teima em ficar sempre do lado dos injustiçados. Depois, na universidade, tive um contato mais próximo com a língua, a cultura e a literatura. Nesse tempo, aprendi que os laços do oriente não são privilégio de uns poucos, cujo caminho cruza como numa estrada, o universo Árabe. A influência Árabe espalha-se por toda vida brasileira: na língua, na culinária, na literatura, na cultura popular…e, num enorme inventário baseado na contribuição dos imigrantes Árabes. Preferindo pegar um atalho para definir a relação entre árabes e brasileiros, lembro, bem a propósito, uma frase de Ariano Suassuna: "OS MOUROS SÃO NOSSOS IRMÃOS".