Há coisas que não deveríamos contar para ninguém e, principalmente, não contar para um cara metido a cronista. Devíamos guardar a setecentas chaves e nunca mais nem sequer lembrarmos delas. Um dia quando pensássemos em lembrar, daríamos uma tapinha no rosto para desanuviar, se os pensamentos continuassem vindo, daríamos um soco, depois continuaria a base de porrete, paulada e tudo mais.

      Uma amiga caiu na besteira de entregar algo muito constrangedor que aconteceu com ela. Com aquele ar de segredo e em voz baixa, dando umas risadinhas, me disse:

      – Olha vou te contar uma coisa, mas você não conta pra ninguém tá?

      Dei aquela olhada para ela e respondi o que ela queria ouvir.

      – Tá! Claro que não conto para ninguém. O que você pensa que sou? Um fofoqueiro?

      Bom, vou contar para vocês mas, por favor, não contem para ninguém. Esta amiga fazia ginástica todo dia pela manhã. Acontece que ela é do tipo que toma todas, sabe como é, enche a lata, enfia o pé na jaca, entorna o copo, come com farinha, baba na blusa e outras coisas que dizem por aí de quem tem uma vida boêmia. Odeia acordar cedo e ama entrar pela noite. Um dia destes ela entrou pela noite, entrou mesmo, entrou e foi difícil encontrar a porta de saída, se perdeu lá dentro, tomou mais do que já havia tomado.

      No outro dia pela manhã foi, com muita dificuldade, para a academia. Levantou com aquele tradicional gosto de guarda-chuva na boca, acontece que o gosto estava tão forte que foi inevitável, ela ainda com os olhos fechados enfiou a mão na boca a procura do tal objeto, não encontrou nada, mas quase arrancou a língua. Então com muita dificuldade foi à academia. Fazer a bicicleta foi fácil, sentada, cotovelos nos guidões e olhos fechados, mal pedalava.

      O problema foi quando o instrutor disse "agora a esteira", ela olhou para o sujeito com aquela cara de interrogação, que mesmo sem pronunciar uma palavra o interrogava: "O que você tem contra mim?"

      Começou a andar na esteira, ela andava e o mundo rodava, andava e os olhos fechavam. Em um dos momentos a mão dela escorregou e quando tentou se segurar no apoio dos braços tocou no botão que aumentava a velocidade. Daí pra frente a coisa foi ficando pior, ela se perdeu, um pé foi em cima do outro, o instrutor arregalou os olhos, os demais alunos da academia se preparam para rir, pois afinal não gostamos de perder uma boa risada, a mão esquerda, vendo que a direita havia caído aproveitou o embalo e caiu também. Sem ter onde se segurar, minha amiga foi direto para o chão e lá do fundo do seu sono ela só ouviu as gargalhadas como um fundo de uma cena dantesca.

      Outro amigo (imagina se eu não fosse amigo deles), estava fazendo ginástica localizada… Não gente, não digam isto, que coisa feia, não gente, parem por favor, não, ele não é veado. Então? Lá estava ele, "1… 2… 3… e… de novo… 1… 2… 3…". Depois de um tempo a bichinha, quer dizer o instrutor disse:

      – Agora todos peguem seus colchonetesinhos e vamos fazer alguns abdominais. Levantando as perninhas meninos.

      Acontece que só tinha o nosso amigo de homem neste dia e ele, que tinha tomado um café da manhã bem reforçado, não se conteve no momento em que fez o esforço para a primeira flexão. Ao levantar as pernas ouviu um som e, depois, o que ele viu depois foi uma debandada de colchonetes. Todas as garotas que estavam próximas dele se retiraram, algumas até desistiram do exercício e ficaram esperando a maré passar. Ele que não se continha de tanta vergonha disse: "Nossa meu, quem fez isso? Que coisa feia! Vou embora. Deste jeito não dá pra treinar. Não volto nunca mais nesta academia." E foi embora de nariz empinado e tampado. Nunca mais voltou à academia.