I – O CAMPONÊS

Me pintaram a cara de índio
e me arrancaram da terra
com minhas raízes e meu reino.
Lançaram minhas sementes n'areia
e n'areia me perdi entre os grãos.
E mataram minha colheita,
e nas promessas de sol me esqueci
sem minhas mãos.

Hoje,
uma força mineral
ronda minha voz:
é a pétrea morada do silêncio
por sob as minas de
meu coração despedaçado.

II – O ÍNDIO

Pintaram minha cara de branco
e me arrancaram a terra
e as raízes com seus reinos entranhados.
Cortaram minhas colheitas de sol
e na vida me perdi desde então.

Hoje,
uma vegetal tragédia
paira sobre minha nenhuma morada:
é a secreta luz da mentira
por sob a capa de meu sorriso escarlate.