Entre o pão e o trigo
há uma distância:
O trigo, inacabado sob o tempo,
na ânsia de tornar-se pão,
canta com os companheiros
a felicidade de ser trigo
e um dia poder
negar-se trigo para ser
pão.

O pão, consumido a todo tempo
sob o pêndulo das horas,
agoniza na ânsia de voltar
a trigo e negar-se pão
– ainda que sustente o pêndulo
da vida.

Quem é, se nega:
quando bruto,
deseja a lapidez das coisas;
quando acabado,
voa em busca do tempo findo
– ou da consumação do tempo,
antes que a tarde queime
e os homens comam o último
dos pães.