"Deixe que me digam que sou preguiçoso, mas planto em tempo que é de queimada" (de uma música de Geraldo Vandré que tenho na memória).

      Queimada é um filme do diretor Gillo Pontecorvo (o mesmo de Batalha de Argel) que está sendo exibido na cidade (cine sesc), e que conta a história de uma ilha fictícia, que tem mesmo nome, por conta das queimadas realizadas nas plantation (cana-de-açúcar) e florestas como uma investida do colonizadores portugueses contra a rebelião dos escravos – mesmo recurso utilizado pelo neo-colonizadores ingleses contra luta de libertação do povo de Queimada.

      O filme desnuda a estratégia da dominação inglesa no século 19, apresentando elementos que iluminam uma reflexão a cerca da dominação, em qualquer País em qualquer tempo e, talvez por isso este filme de 1969 tenha sido proibido pelo Regime Militar. O herói do filme, José Dolores, longe de ser preguiçoso, em tempo de queimada resistia de arma na mão, mas o ponto alto do filme é a ponderação do estrategista inglês (Marlon Brando) sobre a força de um exército e a força de um mito, o que leva a pensar nesse tempo da proposição de "do-in antropológico": nada pode ser mais saudável que revitalizar nossos próprios mitos, vivos na história e na tradição cultural brasileira, como forma de resistência às inúmeras queimadas que estão em curso e as inúmeras que virão.