No ônibus
– Seja você mesmo, mas não seja o mesmo sempre.
– Como?
– Ã?
– Você falou comigo?
– Ah. Não. Estava pensando alto.
– Hm.
– É que eu li isso pichado num muro, sabe?
– Sei.
– Sabe o quê?
– Não… é… é só um modo de falar.
– Tipo assim: tá, tá, não enche.
– Não, qué isso… quer dizer…
– Você é sempre assim articulado?
– Como assim?
– Articulado: fala bem, concatena as idéias.
– Olha, moça, desculpe se eu… bom… te ofendi… disse algo…
– Tudo bem.
– Eu nem te conheço e…
– Hum, hum…
– Na verdade, eu estava…
– Distraído.
– Isso. Pensando…
– Nas contas para pagar.
– Não exatamente, mas…
– Algo por aí.
– É.
– Sei.
– O quê?
– Nada. É só um modo de falar.
– …?