Hoje ocupo este espaço para falar de dois livros que devorei neste final de semana: um é Testamento de luta – a vida de Carlos Danielli, de Osvaldo Bertolino; o outro é Lições da luta operária, de Rogério Lustosa, organizado por Olívia Rangel.

      Iniciativa da Comissão Estadual de Formação do Partido Comunista em São Paulo e editados pela Anita Garibaldi, os livros dizem respeito a dois combatentes do PCdoB: o primeiro, Carlos Danielli, membro do Comitê Central do Partido até 1972, ano de sua morte sob tortura no Doi-codi paulista, e o segundo, Rogério Lustosa, legendário secretário de agitação e propaganda do Comitê Central, falecido em 1992, aos 49 anos.

       Danielli tem sua vida relatada pelo ex-metroviário e hoje jornalista Bertolino em 180 páginas. Contudo, o autor não começa pelo nascimento do biografado, e tampouco se restringe a contar sua história pessoal: o livro tem início com a vinda do avô de Danielli para o Brasil e todo o relato é enquadrado por dados sobre a realidade brasileira desde os albores do século 20 até o início dos anos 70.

      Bertolino nos oferece uma aula de história e de vida, e nos coloca em contato com o pensamento de Danielli – por tudo, atualíssimo. Suas colocações acerca da dialética unidade e luta e sobre a importância do Partido valem a edição.

      Já o livro de Rogério Lustosa não é uma biografia. É uma reunião de textos da coluna "Lições da luta operária", que era publicada na Tribuna Operária, jornal de sucesso e de importante papel no processo de redemocratização do Brasil e na construção do PCdoB. Olívia Rangel organizou esses textos, agrupando-os por tema. Assim, montou um instrumento de formação militante de valor inestimável.

      Rogério foi um secretário nacional de propaganda que marcou época. Sem ser jornalista formado, tinha um estilo próprio, tanto na escrita, quanto na postura militante. Tive o prazer de trabalhar com ele na revista Princípios e na Comissão Nacional de Propaganda. Impossível não admirá-lo e não rir com ele. Grande polemista, era estimulante vê-lo em palestras ou em debates.

      Enfim, vale a pena tirar um tempinho para ler esses livros. Fechadas as páginas, ficamos suspensos entre a precariedade e a grandeza, e nos vemos forçados a fazer um balanço de nossas vidas: somos dignos? Quanto fazemos para aproximar o sonho de uma terra sem amos?

      A memória, mãe das musas, é mesmo o diabo: vai ao ontem e convoca nossos mortos para nos tirar do sossego.