Novamente, o imperialismo norte-americano coloca o mundo sob ameaça. Alheio aos protestos de milhões de pessoas, o governo dos Estados Unidos impõe aos povos o flagelo da guerra, a partir do uso da força bruta conta o Iraque. É um novo capítulo da “guerra infinita” que o governo Bush jurou contra os povos, logo depois do 11 de setembro. Usando o pretexto de proteger a comunidade internacional do terrorismo, o imperialismo norte-americano atacou e ocupou o Afeganistão, assumindo o controle de uma região importante da Ásia Central. Utilizando uma vez mais esse desmascarado subterfúgio, põe agora em ação sofisticado e volumoso aparato bélico e mais de trezentos mil soldados, para se apossar do mar de petróleo iraquiano e de se assenhorear de posições geopolíticas estratégicas no Oriente Médio.

O imperialismo norte-americano, sob o comando de George W. Bush e dos ultraconservadores, ameaça os povos com ferocidade inaudita. Contamina a política mundial com seu obscurantismo. Caminha para um novo tipo de fascismo, apontado inclusive por inúmeros intelectuais, mesmo norte-americanos. Despreza o direito internacional e combate a ONU, uma vez que ela se apresenta, hoje, como um estorvo ao seu objetivo de manter e ampliar pela força o seu hegemonismo. A ferro e fogo, Bush tenta impor uma nova ordem mundial que sepulte as decisões multilaterais. O planeta, segundo essa visão imperial, passaria a ser regido pelos poderes supremos de Washington.

Mas, se por um lado vive-se essa realidade sinistra da escalada guerreira, por outro, presenciamos o descortinar de um momento novo da resistência contra a ofensiva imperial. As grandes manifestações pela paz ocorridas no histórico 15 de fevereiro e renovadas a cada dia, em todos continentes, indicam um levante dos povos contra essa guerra de saque e pilhagem. Noutro pólo acirra-se a contradição interimperialista. França, Alemanha e Rússia enfrentam a arrogância da Casa Branca, buscando resguardar os seus interesses econômicos. Negam cumprir o papel de “vassalagem” adotado pela Espanha e o Reino Unido. Um grande número de países, como o Brasil, também se ergueu opondo-se à lógica guerreira e exige uma saída pacífica ao conflito. O fato é que desde a dissolução da União Soviética no início dos anos 90, não havia ainda se manifestado tão vigorosa contestação ao hegemonismo norte-americano.

Neste contexto, barrar a ofensiva bélica do insano governo Bush, defender e conquistar a paz são tarefas imperativas aos povos e aos países. Ontem foi o Afeganistão, hoje é o Iraque. E amanhã, pode ser qualquer país.

No plano nacional, tendo construído as condições iniciais e mínimas de governabilidade nesses instáveis e simbólicos cem primeiros dias, o governo Lula deve utilizar esse fato positivo para incrementar o projeto de mudanças, cujo núcleo é a implementação de novo modelo de desenvolvimento, com soberania e aprofundamento da democracia, que possibilite o aumento da produção, da oferta de emprego e a elevação da renda dos trabalhadores. Dado os negativos condicionantes internos e externos, trata-se de um empreendimento complexo: desvencilhar-se do fracassado neoliberalismo e no seu lugar implementar um modelo assentado em fundamentos e objetivos novos. Cabe lembrar, nesta hora, os versos do poeta espanhol Antonio Machado: “caminante, no hay camino, se hace camino al andar”. Princípios, nesta edição, continua a fomentar o debate, o florescimento de idéias que ajudem os “caminhantes” a traçar trilhas novas, mais curtas e seguras. Pois se é verdade que os caminhos devem ser criados, uma vez que a locomotiva da história por essa estação ainda não passou, o destino a se chegar é claro, o povo o indicou em 27 de outubro: a mudança. Que a caminhada rumo às transformações comece já.

*Comissão Editorial

EDIÇÃO 68, FEV/MAR/ABR, 2003, PÁGINAS 3