Coisas que nos acontecem e não contamos para ninguém (dois)
Ponto de ônibus
Um dia quando eu estava concentrado no ponto do ônibus, olhando fixamente para o local de onde minha condução sairia, e preocupado com que o motorista não me deixasse para trás, passando pelo outro lado da pista e me deixando a ver navios, avistei o amarelão (amarela era a cor do ônibus) e rapidamente estiquei meu braço com meu indicador em riste. Neste momento uma mulher, senhora já, se atravessou no caminho do meu dedo e eu, distraído, acabei por enfiar aquele dedo duro entre os peitos fartos da mulher.
Até hoje sinto o cheiro do couro de sua bolsa.
Na academia, de novo
Numa destas infelizes tardes, estava eu numa academia, fazendo um pequeno aquecimento com a bicicleta ergométrica (aquela que você fecha os olhos, pedala, pedala e quando pensa que está chegando na praia, abre os olhos e percebe que não se moveu nem um milímetro). Estava também um destes sujeitos que mais parecem um guarda-roupas de portas abertas se exercitando do meu lado esquerdo com um aparelho chamado leg-press (um monte de peso que você fica empurrando para cima, depois os pesos descem e você empurra de novo). A porta de entrada ficava do lado direito, portando eu estava entre a porta e o sujeito.
Depois de algumas pedaladas, com o sol da tarde a pino e um sono dos diabos, eu já não lembrava nem o que havia comido, quanto mais se tinha mais alguém na sala que ficava no piso superior da academia.
Estávamos só eu e o tal gigante quando entra pela porta que dava acesso à escada uma morena fenomenal, pele bronzeada pelo sol de verão, corpo tratado a base de iogurte e malhação, cabelos negros que caíam pelos ombros e emolduravam um rosto angelical misturado com um ar diabal que, se não existe a palavra, considero-a criada única e exclusivamente para retratar aquela garota.
Ela foi entrando, vindo em minha direção e perguntado: Você por aqui. Faz tempo que chegou?
Eu que não sou tolo nem nada, não fui interrompê-la para saber de onde ela me conhecia, eu, na realidade, não precisava saber de nada, com uma mulher linda como aquela bastava saber que ela me conhecia, então respondi: Pois é estou aqui. Acabei de chegar.
A morena fez uma cara, mudou a fisionomia e eu pensei logo que não havia agradado. Tenho que mudar a tática, quando fui começar a falar novamente ouvi uma terceira voz dizendo: Vem aqui amor, acabei de chegar.
Bom, fiquei pelas pedaladas mesmo. Com o pescoço duro e os olhos fixos na parede em frente, só movi minha cabeça no momento em que tomei coragem, peguei minha mochila e troquei de academia.