Hoje, de posse da vida,
poderei dizer-te das coisas
que não sei ou sinto:
do destino que nunca se destina
em nos alegrar;
do outro lado da lua
que o homem escuro teima
em vigiar;
dessa fome do mundo
e de nossos olhos
vigiando o futuro
com suas conseqüências indomáveis…

Hoje, de posse do mundo,
poderei dizer-te das guerras
que não travei e pressinto:
das terras carbonizadas
desse meu chão nordestino;
desses ventos de norte que nos sopram nos olhos
areia e mel.
E dessa flor despetalada
que teimamos em plantar
no chão multicolor deste planeta…

Hoje, de posse de teu riso,
poderei dizer-te coisas
que vão pra além do tempo inquiridor:
coisas que nem sei
e que sei tanto que não há
como as diga.
Coisas de meu peito,
de meus olhos buscando
teus olhos naqueles dias
calmos de conspiração e
alegria: a lua, o sereno,
a fogueira pouca, teu fogo muito,
teu ventre
e tua flor aberta
em gozo…

E por estar assim,
senhor de muitas posses,
mas destituído de mim,
me destino

cativo

e liberto

do desejo

de voar.