Augustiana
O gatos caminham lá fora.
Do pó, surgem como panteras espreitando a noite.
Não, não são de quimeras, seo Augusto,
nem de aneladas formas de sonhos (ou pesadelos).
São feras.
Feras que nos espreitam à noite
a fim de devorar-nos quando adormecermos cansados.
Cansados de trabalhar o dia no aço,
mastigá-lo nas engrenagens dentadas
alimentadas de uma população desdentada
e ausente: das listas de natal
das festas e banquetes
das filas de açougues
dos lençóis em noites
ardentes.
Os gatos é que nos espreitam, seo Augusto,
não os vermes.
Os vermes, nós os amassamos entre os dedos
com a farinha, nosso alimento sem feijão;
os englobamos em nossas células alucinadas
e os tornamos parte de nós e do mundo
Os gatos, seo Augusto,
os gatos são o problema.
Não vão só nos devorar os olhos, meu amigo,
vão nos devorar inteiros, em grande bocados,
e não vão deixar um resto de memória,
um ai para fazer remédio.
Os gatos, seo Augusto,
eles são feito classe, feito esfinge…
Devoremo-los ou eles nos traçam!