Sabia que não tinha como faltar ao compromisso. Até que não queria ir, mas ela mesma tinha solicitado aquela reunião, e ficaria muito estranho logo ela não comparecer. Mas estava tão sem vontade, tão cansada, tão sem pique…

      Sacudiu a coberta pra longe. Chegou do congresso ontem e hoje passou o dia lendo, nem preparou nada para o encontro de logo mais.

      Foi ao banheiro lavar o rosto.

      Ah, tem dias que a gente tá mesmo sem ânimo para essas coisas de militância. Não seria ótimo poder dizer aos companheiros "ó, moçada, hoje não tô a fim, falô, valeu"? Seria o socialismo, como diria o pessoal.

      Foi ao varal buscar calça. Pensou em trocar a camiseta, mas desistiu – não tava assim tão amassada. Voltou pro quarto em busca do desodorante. Podia tomar um banho, né? Não, não vai dar tempo. Ajeitou os cachos com os dedos, passou um perfuminho no lóbulo da orelha. Onde largara a mochila? Na sala. Conferiu: agenda, caneta, passe. O dinheiro dava pruma cerveja. Pegou uma maçã na geladeira, conferiu a sala vazia com um olhar panorâmico, apagou as luzes, chaveou a porta e foi no rumo do ponto de ônibus. No caminho, foi preparando sua intervenção. Afinal, a reunião, ela que a solicitara.