O 8 de março
Enquanto escrevo, mulheres iguais a ti, acordaram mais cedo, e talvez com aquela ansiedade que antecede as batalhas, nem tenham tido tempo ou paciência para passar a manteiga no pão ou para passar o batom nos lábios. Andam apressadas, correm, o "coração disparado", pois hoje é o 8 de março. Para que esse 8 de março novamente houvesse, quanto trabalho…
Desde que assinei a ficha de integrante do contingente de construção do mundo novo, passei a conhecer essas mulheres iguais a ti, que de um elevado de um teatro, ou de cima de uma cadeira ou de um caminhão, ou às vezes se estão mais altas é tão somente pelo salto alto das sandálias, argumentam com paciência, ou com a impaciência de quem é alvo da surdez da sociedade — e muitas vezes dos próprios companheiros (as) e camaradas —, nos sacodem, com a voz doce ou estridente, enfim, nos apresentam a verdade de que não haverá mundo novo se as mulheres continuarem vítimas de violências, preconceitos, discriminações.
Essas mulheres iguais a ti, nos dizem que, sim, libertar o proletariado e a humanidade da opressão de classe, com certeza, é uma grande e bela obra. Mas essas guerreiras e princesas do porvir, essas mulheres iguais a ti, nos dizem que todavia nada será realmente belo se as mulheres continuarem sendo tratadas tal a época das cavernas.
Em Goiânia, conheci um "abrigo de mulheres". Muros altos, soldados à porta, refugiadas com a prole à volta, privadas da liberdade, foragidas da violência de seus maridos, espancadas, queimadas, ali exiladas, pois se retornassem ao lar seriam vítimas de violência ainda maior.
Na sede do CC do PCdoB tem uma gravura de um artista plástico judeu, membro do Partido Comunista de Israel. É uma gravura que retrata Olga Benário nos campos de concentração da Alemanha. Está altiva, mas pálida e triste… Dá vontade de pular dentro da gravura para libertá-la, para que amamente Anita, para que alimente a luta.
Olga, bela, clara, brava, culta, os olhos tinham o verde manso e doce das folhas de cana. O nazismo a considerava uma ameaçava. Olga atravessou o Atlântico a mando do amor e da luta de classes; mas a Gestapo tinha garras longas. Nem a largura do oceano foi o bastante para protegê-la. Ela foi entregue grávida à ditadura de Hitler para perecer num campo de concentração nazista. Esse talvez seja o crime que melhor simbolize o obscurantismo político do podre Estado Novo de Vargas.
Quantas Olgas não estão adormecidas nos milhões de nossas Marias? Um mundo de fato novo só poderá ser edificado se as mãos sensíveis e mágicas dessas milhões de Marias despertadas participarem da sua conquista e construção.