Tantos problemas pra resolver… E tudo sozinha, numa terra estrangeira…

      Arrumou o menino, pôs-lhe uma touca – não fosse piorar da otite. Chamou a mais velha, que se demorava em ajeitos no quarto. Pegou as bolsas, dividiu-as com a filha, foram pro carro, todo embaciado de sereno do inverno.

      No caminho, enquanto o pequeno dormia e a maior olhava pela janela distraída consigo, ela calculava o tempo e os locais em que tinha de passar: deixar o fofinho na escola, a mocinha no ponto e depois, farmácia, estação de trem, trabalho.

      Quando somava e subtraía segundos, sempre se esquecia de si lembrando. Algum vento tropical iluminava a memória de um tempo ido em que transitava por vias paulistas, trajetos capixabas e em que vivia mergulhada numa aura marinha, feita de vastas extensões, cerrados e passeatas por liberdade.

      No trem, que lá é comboio, sacou da bolsa o Saramago recém-começado. Pensou numa jangada e se imaginou nos mares do sul, a criar rebeliões e a desfazer saudades.