Até que enfim. Em 32 anos de minha vida nunca tinha tido férias tão boas quanto estas. Foram os trinta dias mais bem vividos de minha vida, as férias que pedi a deus, as férias que sempre sonhei.

      As melhores férias, as outras foram sempre na base do "pega as malas amor, tira a Luiza da piscina, cuidado com a insolação, não fica muito tempo na areia meu bem, está muito quente, cuidado, não dirige em alta velocidade (eu estava só a quarenta quilômetros), vamos para as praias do norte, vamos para as praias do sul, não corre muito, leva as compras, ajuda a lavar a louça, pega as malas amor".

      Estas não, estas foram minhas férias. E sabem o que fiz? Nada. Isto mesmo nada. Fiquei trinta dias em casa, minha maior viagem foi até a padaria comprar uns pãezinhos esquisitos. Acordava às doze horas e dormia às três da manhã. Nada de malas, de insolação, de ficar queimado e dormir achando que vai ficar grudado no colchão pela manhã. Nada daquela ditadura dos bronzeados, eu queria mesmo era ficar bem branquinho, transparente, sumir de tão branco, só para contrariar aqueles que passam exibindo aquela cor que pegaram na praia; escondendo é claro os bichos-de-pé e as frieiras. Eu não estava nem um pouco preocupado, sabia que não ia ficar todo descascando igual uma cobra quando troca de pele, não ia ter que pegar trilhas no meio do mato (pra que ter que entrar no mato se já inventaram carro, asfalto, calçadas? Pra que ir pra lugares desertos, se inventamos telégrafos, telefones, fax, internet e um monte de meios de comunicação só para não nos sentirmos sós? É até uma falta de respeito para com as pessoas que sofreram tanto para criar esta parafernália toda), correndo o risco de cortar o pé e nem ter um médico perto para te socorrer, correndo o risco de se afogar na praia deserta e não ter um salva-vidas por perto. Numa situação dessas, até uma abelha é um risco à sua vida. Já pensou!? Uma picada no pescoço, você numa região deserta, nem uma pomada para colocar no local, sem tomar banho num chuveiro quentinho, tendo que ficar sujo, a picada inflamando, insetos se aproximando, vamos parar com isto, minha gente, já inventaram o aconchego do lar.

      Pois bem, fiquei em casa e o esporte mais radical que pratiquei foi pular de uma ponta para a outra do sofá a fim de pegar o controle da TV. E que controle, meus amigos, é algo assim feito para minhas mãos, pretinho com botões que acendem no escuro, macios, um deles é vermelho. Este é fenomenal. É ele que dá início a tudo, quando você o aperta tudo de bom acontece, um outro é amarelo e está escrito menu, ali você é o deus, controla cor, brilho, contrataste e tudo mais. Ah, sim, meus amigos. Aquele botão te faz um rei. Na banana não, na banana você fica a mercê de um fulano-de-tal que liga o barco e sai feito um louco por dentro do mar fazendo de tudo para você cair, uma gorda que comeu uma puta feijoada no almoço resolve vomitar tudo e os banhistas, que já tinham dificuldade em se afastar dos submarinos fecais, agora têm que correr de um pé de porco mal digerido que insiste em persegui-lo. Isto mesmo minha gente, férias é um perigo para a saúde humana. O Ministério da Saúde deveria advertir aos consumidores de férias. Já pensou, você vai comprar uma passagem e nela está escrito: "O Ministério da Saúde adverte: passear faz mal á saúde". Vocês estão achando estranho, é? Mas é a pura verdade, vai nadar de boca aberta nas praias de nosso país.

      Desta vez não, desta vez fiquei em casa. Vi todas as sessões da tarde, todas as novelas, todos os filmes do Tele Cine, fiquei especialista em filmes de quinta categoria, em trash, assisti a pelo menos uns cem filmes de gatos que falam, de cavalos que sabem de tudo, umas dez versões do Titanic e mais uma infinidade de filmes culturais e inteligentes do Van Damme, do Silvester Stalone e de mais alguns destes que um dia falaram para eles que eles eram atores e eles acreditaram.

      Assisti a tantos filmes de cachorros que falam que no primeiro dia em que saí de casa para ir trabalhar, pensei ter ouvido o cachorro do meu vizinho me dando bom dia. Na verdade ele estava realmente de cócoras olhando para mim tão concentrado, os olhos tão fixos em mim, que eu parei, olhei para todos os lados, me precavendo de que ninguém nos olhava, e por via das dúvidas, também desejei a ele um bom dia e fui trabalhar.