Deuses em fúria
"O que é aquilo, senhor?", perguntou o soldado a seu oficial. "Shit", foi a resposta que ouviu.
Do chão do deserto, levanta-se algo como um titã. Vinha em forma de uma massa fina compacta. Com seus grãozinhos, penetrava frestas, emperrava máquinas, impedia os helicópteros de levantarem vôo.
Era uma tempestade de areia. Veio sem avisar, contrariando os prognósticos das três dezenas de meteorologistas acampados com as tropas. Comboios de carros de combate sustaram sua marcha.
O soldado não conseguia respirar. Seu comandante já estava com um pano enrolado na face. Todos para o abrigo. A alvorada estava perto. A ordem de ataque já tinha sido assinada. "Agora é com os mísseis. Só eles atravessam esse inferno", pensou o oficial.
"O que é isso, senhor?", voltou a perguntar o soldado sufocado. "É a fúria de Alá, my son. Mas não se preocupe. Ela passa. Logo, logo eles vão conhecer a ira do Senhor".
Bagdá anoiteceu em chamas. Iavé, resplendente em suas vestes, despeja uísque em seu copo, num salão oval, em Washington d.C.