Horas de espera.

      Subiu no elevador já passava das duas. Chegou ao piso no horário marcado. E agora, esperava horas.

      Talvez não fossem horas, mas largos minutos: neles pareciam caber os séculos.

      Perdeu a conta de quantas vezes havia cruzado e descruzado as pernas. Perdeu a conta das pernas e do tempo em que aquela dormência vinha tomando conta de tudo. Resolveu levantar. O pé falhou: agulhas espetavam-lhe a planta.

      Olhou pros lados em busca de uma janela. Só viu na parede um proibido fumar. Mais essa.

      A moça de vermelho saiu finalmente. Os seios, livres no vestido, balançavam seus olhos nas órbitas. Imaginou tudo e mais um pouco. Ela nem esperou o elevador. Desceu pela escada.

      Restavam na sala ele e mais um rapaz. Franzino, há horas parecia olhar para mesma página da mesma revista.

      Foi chamado. Antes de entrar, enxugou o sangue que insistia em escorrer pela testa. Uma preocupação difusa o incomodava. Lembrou de um rosto: ora sorrindo, ora espantado. Lembrou de uma menina. Era banguelinha. Quem seria?

      Atravessou a parede meio atordoado com a memória. Um homem apontou-lhe a cadeira. Recusou: sentia-se bem assim, flutuando. O homem foi ao arquivo, pegou uma pasta e atirou ao fogo. Informou que tudo estava bem depois que partira. Apontou-lhe o corredor e anunciou o inexorável olvido.