– Doravante, chamar-me-ei Ildefonso. Cansado desta inércia, deste nome joseanamente simples, saio em demanda de uma nova identidade – nobre, guerreira. Desbravarei terras ignotas; singrarei mares nunca dantes poluídos. Serei Ildefonso, cavaleiro galopante das selvas histriônicas!

      – Não é Idelfonso?

      – Foi o que eu disse: Ildefonso.

      – Não Ildefonso: Idelfonso. O éle depois do e, não do i.

      – Lá vem você cortar o meu barato.

      – Não tô cortando nada.

      – Tá sim.

      – Você e essa sua mania de perseguição.

      – Eu não tenho mania de perseguição.

      – Tem sim.

      – Não tenho.

      – Pois tem. Vive achando que toda pergunta é pra te chatear.

      – Ah, mas aí não é mania de perseguição: é chatofobia.

      – Cê tá querendo dizer o que com isso, Zé Roberto? Que eu sou uma chata?

      – Você é quem está dizendo.

      – Pois fique sabendo que tem quem goste, ouviu?

      – Eu sei.

      – Sabe o quê?

      – Que tem quem goste?

      – O que você quer dizer com isso? Que eu te traio?

      – É você de novo quem está dizendo.

      – …

      – Você me trai?

      – Traio. Ele é gostoso, alto, moreno e gentil!… tem todos os cabelos da cabeça e não tem barriga. Trepa divinamente e me faz gozar muito!

***

      – Como ele conseguiu ficar assim, senhora?

      – Flor de lótus invertida na ponta do vaso sanitário.
 
      – …?!

      – É o Kama Sutra…

      – Kama Sutra…

      – Adaptado.

      – Sei…

      – Ai, meu Deus, que vergonha…