O sujeito puxa a peixeira, encosta no seu pescoço e diz: "Ou me obedece, ou rua!".

      Alguém pode dizer: "Oxente! Se a casa é do cidadão, ele tá no seu direito". Se fosse só dele a casa, ainda assim era de se discutir. Mas acontece que a casa não é só dele. A casa é de todos os que com ele a ocuparam. Aliás, ele só tá lá, sentado na cabeceira, porque a família inteira labutou praquilo.

      É muito comum aquela história do cara que é palhaço na rua, mas em casa é um bispo. Chega na roda de amigos, paga umas brejas, tira uma piada aqui, faz uma embaixada ali. E todo mundo sai dizendo: "Fulano é da hora! É um cara muito gente". Mas aí ele chega em casa: faz uma cara de autoridade, reclama da janta, pergunta da menina – Quedê? -, e quando a mãe diz que tá na casa da amiga, ele a culpa, declara-se chefe daquela família e exige obediência canina. Na rua, tem apelido. Em casa, é seu Luiz – senhor Luiz Inácio.

      Reclamar lealdade não é pecado pra ninguém. É até justo. Afinal, estamos ou não estamos aqui pra fazer a coisa funcionar? Estamos. Mas a pergunta é: funcionar como? Porque não é possível ser fiel a uma injustiça, não é mesmo? Como ser fiel, quando seu Luiz propõe cobrar do vovô a janta e a hospedagem? Como empenhar lealdade a quem prefere cortar da sogra um pedaço de sua pensão? Seu Luiz recebe o agiota de braços e sorrisos e manda os filhos darem mais dinheiro pras despesas?! Como não ficar insatisfeito?

      Seu Luiz dá ouvidos aos estranhos, dando de barato que com a família não precisa tratar, ouvir, ponderar. Não tamo falando daquela cunhada histérica, nem daquele sobrinho pilantra, que troca de casa como troca de roupa. Falamos de gente batalhadora, que tem 13 anos que tá com o senhor Luiz Inácio nesta caminhada.

      Mais respeito, seu Lula. Mais respeito com quem tem 81 anos nesta labuta e quer mudar essa casa desde os caboucos. Mais respeito com a vontade das gentes e com todos aqueles que são as vozes dessa vontade. E menos condescendência com as aves de rapina, com os banqueiros, com os inimigos…

      A não ser que já não sejam vossos inimigos…