Fiquei contente ao perceber que o dia desta coluna coincidiu com o primeiro de maio. A gente sempre tem um primeiro de maio na memória; uns enormes, outros; mirradinhos, divididos (sem graça!), mas, os que a gente nunca esquece são os ontológicos, os emblemáticos e, algum até literário, como o do Mario (de Andrade) ¾ a estória do 35, um trabalhador doido para encontrar um polícia e dar umas pancadas, e dessa forma, aproveitar o seu dia para descarregar toda sua indignação com a "ordem estabelecida"; Pobre 35 ¾ acaba encontrando um polícia conhecido e boa praça.

      Dessa relação entre primeiro de maio e polícia, lembro uma frase de ocasião que foi dita por um oficial do batalhão de choque: "vamos cumprir nossa função custe o que custar". O que faz crer que a polícia tem uma função em relação a uma manifestação, da mesma forma que o trabalhador (desempregado ou não) tem uma função em relação ao primeiro de maio. Numa situação de inevitável confronto de "funções", ganha vigor a frase do finado Vicente Mateus: "Quem sai na chuva é pra se queimar".