Há uma fome de paraíso que brota do paraíso da fome. Esta evidência vem da lembrança dos cem anos da guerra de Canudos ou de qualquer reflexão sobre o sagrado e o profano que se misturam na cultura popular nordestina.

      Uma amiga pernambucana costuma dizer: "ninguém nunca viu pé de cobra mas, que tem… tem". Da mesma forma, ninguém nunca viu o paraíso após a morte, mas neste caso, mesmo que tenha, é difícil encontrar alguém apressado.

      Esta conversa de paraíso faz lembrar João Teité, personagem paraibano criado por Luis Alberto de Abreu, que procura o paraíso aqui mesmo, neste mundo, um paraíso de "estômbago" cheio. Teité pede em oração: "perdoai nossas dívidas", mas sabe que: pode até ser … talvez… quem sabe… alguém perdoe ¾ "menos o Diabo e os Bancos".

      Se hoje eu fosse escrever um "Auto", diria que o Diabo, os juros altos e os Bancos formam uma trinca de conspiradores contra todos os paraísos ¾ "menos o paraíso fiscal".