Fulano de Tal tinha acabado uma prova que deixara pela metade. Ele havia se preparado para a prova há dias e ainda assim se perdeu no meio de tantos números e pontos de interrogações. Estava a caminho do ponto de ônibus – a escuridão começava a tomar conta de tudo – quando bateu no bolso da camisa, depois nos da calça, de trás, da frente, no bolsinho do bolso da bolsa e nada, nada do baseado que ele havia deixado para depois da prova. A rua era deserta e daria para ele curtir a liberdade de optar por queimar ou não alguns neurônios. Parou num ponto perto da faculdade para não perder aquele momento de solidão e sensação de foda-se a prova, na próxima eu colo.

      Entrando naquele boteco, Fulano de Tal perdeu a grande oportunidade de sua vida, a oportunidade de conhecer Cicrana. Naquela mesma noite, Cicrana foi ao ponto de ônibus de Fulano de Tal e pegou o mesmo ônibus no mesmo horário. Por causa do baseado ele perdeu a oportunidade de ir sentado do lado dela, de conhecê-la, de reencontrá-la, de marcarem um cinema e de começarem a namorar um mês depois. Perdeu a oportunidade de levá-la ao motel e terem o melhor orgasmo da vida dele e dela, de dividirem o dinheiro para um gostoso jantar, de verem filmes pornô juntos, de viajarem para passar um feriado de inverno na serra abraçadinhos, tomando chocolate quente, de dormirem até tarde. Por não ter pego o ônibus Fulano de Tal perdeu a chance de conhecer os pais da Cicrana, de se comprometer cada vez mais com ela, de perder a chance de sair com os amigos e conhecer pessoas novas, de perder a individualidade, de pedi-la em casamento e dela aceitar, de com o casamento ganhar uma sogra com uma verruga na ponta do nariz, de ganhar um cunhado chato que chegará na sua casa, deitará no sofá tomando sua cerveja e assistirá ao jogo do corinthians torcendo a favor e não contra o tal do timão, perdeu a chance de ir dirigir e ter a mulher do lado dizendo cuidado com isso, cuidado com aquilo sem que você tenha sequer ligado o carro. Perdeu a chance de ter a Cicrana vasculhando sua bolsa a procura de algum bilhetinho (que você já decorou o telefone e jogou fora), de tê-la a lhe cheirar para ver se você está com perfume de outra mulher ou com cheiro de cerveja, perdeu a oportunidade de não poder sair com seus amigos, perdeu a chance de perder completamente a individualidade e aqueles momentos de solidão tão importantes para você por tudo em ordem ou até mesmo fazer coisas que as vezes sozinho é tão bom quanto acompanhado. Ficando naquele boteco, Fulano de Tal perdeu a oportunidade de futuramente ter uma filha, de perder noites acordadas com ela chorando, de ter que sair no meio da noite a procura de alguma clínica porque ela está com um pouquinho de febre, de ela chegar em casa e dizer: "pai este é meu namorado, o LWC"; e você se perguntar: "isto é um nome ou um tipo de papel?" E virar para sua filha e dizer: "filha, mas isto é uma sigla! Você sabe qual é o nome dele?" "Não sei pai, também chamam ele de Bolão", e entrar no quarto com o tal Bolão. Aí você chega a conclusão de que o LWC é realmente um papel e vai embrulhar sua filha ali mesmo, no quarto que você mobiliou para ela. Perdeu a chance de alguns anos depois ela te dar um neto com algum Bolão, LWC, Rus, Craz, Etc (Etc neste caso pode ser o apelido de algum dos namorados).

      Por fim, Fulano de Tal, ficando naquele boteco com o baseado na mão, perdeu a oportunidade de futuramente olhar para trás e ver que perdeu muitas baladas, deixou de sair com muitas outras garotas, de ser livre e de curtir muitos bons momentos em sua vida. Mas como o futuro não se pode prever, poderia ter sido o contrário, vai saber. Mas em caso de dúvida, o melhor é não arriscar.

      Fulano de Tal, parado no boteco, põe o baseado no bolso, pede uma cervejinha e se deixa ficar por mais algumas horas.