Teclo, logo…
– Que acontece com você? Sumido!
– Eu, sumido?
– É.
– Te vi ontem, maluca!
– Me viu, mas eu não te vi na internet. Aliás, tem tempo que não te vejo lá.
Assim foi um papo com uma amiga minha pela rede. Como andei sumido desta coluna por três dias, ela reclamou: disse que não me viu.
“Assim tem sido esses tempos de virtualidades”, diria um velho, cujo maior interesse tecnológico é o fixador de dentaduras Corega, que nem sei se existe ainda. Eu diria que nesses tempos não basta mais ver fisicamente alguém, mas percebê-lo neste verdadeiro espaço público que é a internet – ágora contemporânea, onde agora se define nossa cidadania. Quem tem acesso ao ciberespaço, tem a carta cívica para, ao menos, dar uns pitacos.
Tá certo que perto disso a praça pública grega não passa de um quintal, restrito a uns poucos senhores de escravos. Na verdade, a internet se assemelha mais ao vasto mundo, por onde Ulisses saiu a navegar em busca de águas e carnes nunca dantes experimentadas. Tanto lá, no poema de Homero, quanto aqui, neste universo de bytes e ícones e caixinhas e teclas, tudo é virtual, porque mito.
Acontece que Ulisses não existiu. Ou por outro lado, existiu nos grandes navegantes que expandiram a fé, a lei e o império. Sem eles, montados em suas galés, depois caravelas, não existiria essa internet em que navegamos sem monstros marinhos que mereçam crédito ou calmarias que não sejam programadas.
Mas, se o os bravos marinheiros existiram fora do mito, será que existimos fora da internet? Como ficam todos que não podem acessar a rede? Contam? Com que cara um sujeito explica pros amigos que pega fila de banco para pagar conta de luz? Como pode alguém confessar à sua filha de sete anos que faz uma semana que não abre o e-mail? E se tudo for como em Matrix? Por falar nisso, alguém tem aí o e-mail daquela Trinity?
Se o que diz o filme é vero, nós comunistas somos mesmo uns bestas se achamos que somos os revolucionários. Revolucionário, guerrilheiro pra valer não são os zapatistas, nem o povo das Farc, muito menos a turma da OLP. São os hackers.
É meu velho, a real é o virtual. O resto é verdade, nada mais.
Então, para não frustrar mais minha amiga, aqui vou eu em virtualidades literárias. Deus me livre não existir! Credo em cruz, pé de pato, mangalô três vezes!