Cinco amigos conversavam tranqüilamente, harmoniosamente, sem interferência de nenhum signo perturbador quando um dos quatro, sem motivo algum, de forma abrupta, com a única intenção de inserir a Discórdia na conversa, diz:

      – Minha esposa, a Discórdia, tem um podólogo.

      Todos olharam para ele.

      – Coitada! Mas tão jovem. E o médico o que disse, tem cura? É beníguino ou maligno? Disse um dos amigos.

      Interferiu o segundo amigo.

      – Que maligno! Ficou louco cara!? Isto não se trata de câncer ou coisa parecida, não. Tem haver com furúnculo. Se não é igual é muito parecido. Oh! A minha irmã teve um no mês passado…

      – Um podólogo!? – Perguntou o terceiro.

      – Não, um furúnculo! Diz pra ela fazer o seguinte: Pega água, mistura com gengibre, põe três pitadas de sal, mistura com beringéla cozida…

      O primeiro, marido da Discórdia, se mantinha o tempo todo em silêncio, com aquele ar de quem sabe tudo e deixa os leigos nadarem no pântano da ignorância.

      – Que isso?! Vai fazer um prato especial?! – Era outro amigo – Podólogo não tem nada haver com furúnculo. Não é doença nem nada. Trata-se de uma pessoa, é uma espécie de categoria de gente.

      – Como assim? Perguntou outro intrigado.

      – Podólogo, cruz credo, – Falou isto se benzendo. Este quarto amigo é muito religioso – São pessoas que procuram crianças…

      – Crianças desaparecidas?

      – Não. Estou falando de outras coisas. São homens ou mulheres que saem com crianças.

      – Ah! Já sei, são babás!

      – Ãããã! Que babás!

      – Acompanhantes de crianças?

      – Não! – Quase irritado.

      – Então fala logo, pára com este mistério. – Era o terceiro amigo impaciente.

      – Estou falando. São "gentes" que dormem com crianças.

      – Dormem!?

      – É! Abusam de crianças. Coisa do demônio.

      – Mas isto não se chama tarado?

      – Oh anta! Podólogum Taraduns Pedófiluns, este é o nome científico, conhecido vulgarmente como
Tarado, Pedófilo ou Podófilo.

      – Santa ignorância a de vocês! – Interferiu o quinto amigo.

      – Por quê?

      – Gente podólogo, são aqueles ou aquelas que podam. Do verbo podar. Eu podo, tu podas, ele poda, nós podamos, vós podais, eles podam. Entenderam?! 

      – Falou isto com toda autoridade de um intelectual
 
      – Exemplo: Eu e você podamos aquela árvore. – Disse isto apontando para o segundo amigo.

      – Que árvore? Eu não podei nada.

      – Isto é só um exemplo ôh ingnóbe infame!

      – Oi!? Eu não sou isto aí, não! – Respondeu o terceiro que estava distraído.

      – Não é você, não seu animal.

      – Ah! Então tá bom.

      – Calma gente. Silêncio! – Era o primeiro, o marido, o tal que inseriu as duas discórdias na conversa.

      Todos se voltaram para ele.

      – Não é nada do que vocês estão falando. Minha esposa me explicou. Podólogo é uma espécie de guru/espiritista. Um guia espiritual que descarrega as pessoas. Ele não cobra nada, faz isto por prazer e por bondade sobrenatural. A única exigência é que o ritual deve ser somente com a paciente, de preferência ás portas fechadas. Coisa de santo. Entenderam?!