Junho vem no lombo
de uma lhama.
Vem no sopro
de uma frente
andina
que assobia
nas copas
dos edifícios.

As geleiras dos Andes
bocejam, bocejam
e o bafo chega aqui
e faz
um pombo saltitar
em busca de abrigo
ao pé da parábola
de uma antena.
Ele pelo menos tem penas,
coisa que não tem
aquele vulto
que lá embaixo
rasteja
e tenta aquecer-se
debaixo
de uma lixeira.

Você vem voando,
pousa na janela,
canta e ordena.
Saio às pressas.
Não espero o elevador.
Chego lá embaixo,
os pulmões e o coração
prestes à explosão.
O frio a me lacrimejar,
cubro o vulto
com o cobertor
e
volto
para o
a
l
t
o
da colina
com o cansaço
e a paz
dos justos.

Na colina,
açulo o faro.
Farejo os lençóis,
os castiçais,
os cristais.
Caço
cheiros,
vestígios
esquecidos por ti
em alguma parte da casa,
em algum canto
de mim.

O tato, o faro,
e outros mil e tantos
sentidos acrescidos
à espécie
pela minha fome de ti.
Uma caçada louca
na clareira
daquela selva
onde nossos corpos lutaram.
Uma caçada louca
por farelos, por fragmentos
de ti,
naquele chão
onde carne e alma
se deliciaram.

Verbos do Amor & Outros Versos – Adalberto Monteiro
Goiânia – 1997

Adalberto Monteiro, Jornalista e poeta. É da direção nacional do PCdoB. Presidente da Fundação Maurício Grabois. Editor da Revista Princípios. Publicou três livros de poemas: Os Sonhos e os Séculos(1991); Os Verbos do Amor &outros versos(1997) e As delícias do amargo & uma homenagem(2007).